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    Rock em 78 rpm: nos anos 50, os primeiros passos do ‘ritmo alucinante’ no Brasil

    Pedro Paulo Malta

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    Nascido nos Estados Unidos, aprimorado na Inglaterra e experimentado no mundo todo, o rock chegou rápido ao Brasil. Foi no ano seguinte ao marco inicial do sucesso norte-americano – a primeira gravação de “Rock around the clock”, pela banda Bill Halley and His Comets (1954) – que o “ritmo alucinante” deu os primeiros sinais de vida na terra do samba. Isso em outubro de 1955, quando a composição de Max Freedman e Jimmy De Knight ganhou sua primeira gravação brasileira, feita na Continental, em inglês, por uma das grandes vozes do samba-canção e do bolero, Nora Ney, escolhida por conta da pronúncia irretocável que tinha no idioma de Bill Halley. 

    Ainda no fim de 1955, saíram as primeiras gravações do rock pioneiro em português, com versos do radialista e produtor paulista Júlio Nagib: “Ronda das horas” ganhou interpretações de Heleninha Silveira (na Odeon) e do acordeonista Fronteira (na Columbia), ambas sem grandes repercussões. Também passou em brancas nuvens o registro lançado pouco depois, em janeiro de 1956, por mais uma voz quente do samba-canção: Marisa Gata Mansa (na RCA Victor).

    Mais efetivos foram os dois filmes norte-americanos que chegaram aos cinemas brasileiros trazendo o sucesso de Bill Halley como número musical. Primeiro, “Sementes de violência” (“Blackboard jungle” no original), que saiu em 1955, com direção de Richard Brooks, e depois “Ao balanço das horas” (“Rock around the clock”), produção de 1956 dirigida por Fred Sears, com imensa repercussão e notícias – nem sempre verídicas – dos cinemas que eram depredados pela plateia, de tão atordoada que ficava durante a exibição.

    Outro personagem inusitado na história do rock no Brasil é Cauby Peixoto, responsável pela gravação de alguns dos primeiros rocks feitos no país. Como em 1956 (mesmo ano de seu maior sucesso, “Conceição”, de Dunga e Jair Amorim), quando deu voz a “Enrolando o rock”, composição de Betinho e Heitor Carrillo que lançou pela Columbia. Pela mesma gravadora, lançou nos anos seguintes outros exemplares do gênero: em 1957, “Rock and roll em Copacabana” (Miguel Gustavo); e, em 1958, “That’s rock” (Carlos Imperial), com acompanhamento do conjunto The Snakes. A pianista Carolina Cardoso de Menezes é mais uma personagem improvável desta história: em maio de 1957 lançou pela Odeon a gravação de "Brasil rock", de sua própria autoria.

    O sucesso de “Enrolando o rock” se estendeu até o cinema: o hit de Cauby entrou no filme “Absolutamente certo” (longa dirigido e protagonizado por Anselmo Duarte, em 1957), executado pelo grupo de um de seus compositores: Betinho e Seu Conjunto. Este, aliás, é outro nome fundamental dos primórdios do rock no Brasil: nascido Alberto Borges de Barros, o carioca Betinho era filho do violonista baiano Josué de Barros (um dos “descobridores” de Carmen Miranda) e começou como músico de orquestra nos anos 40. Na década seguinte, formou seu próprio conjunto e embarcou no rock, tocando modelos históricos de guitarras elétricas: primeiro uma Gibson Les Paul, depois uma Fender Stratocaster.

    Entre as gravações marcantes de Betinho e Seu Conjunto na década de 1950 estão, além da já citada “Enrolando o rock” (1957), o fox “Neurastênico” (composição de Betinho em parceria com Nazareno de Brito, em 1954) e o rock “Peanuts” (de J. Cook, em 1958), todos lançamentos da gravadora Copacabana. Na década de 1960, tornou-se evangélico, atuando como pastor e compositor de hinos religiosos que cantava em ritmo de rock-balada.

    Já os primeiros astros do rock nacional vinham de Taubaté (SP) e eram irmãos: Sérgio e Célia Benelli Campello, rebatizados pela gravadora Odeon como Tony e Celly Campello (a moça sorridente na foto deste post). Começaram gravando um disco de 78 rotações em 1958, com músicas compostas em inglês pelo acordeonista Mário Gennari Filho: o lado A com “Forgive me”, gravada por Tony; e o B com “Handful boy”, na voz de Celly. 

    Mas foi cantando versões em português escritas pelo novelista e produtor Fred Jorge que os irmãos Campello ganharam projeção, com discos lançados em 1959, pela Odeon: Tony com o “Baby rock” (versão para original de Renato Carosone e Nisa) e Celly com o grande sucesso “Estúpido cupido” (“Stupid cupid”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield) e “Lacinhos cor-de-rosa” (“Pink shoe laces”, de Mickie Grant), com seus versos juvenis: “Quando ele dança rock é uma sensação / Faz rápido dançar o meu coração / Seu beijo deve ter a delícia do amor / E ele não me beija... que horror!”

    Celly Campelo trocou a carreira pelo casamento em 1962 (com reaparições esporádicas após a aposentadoria artística) e Tony seguiu em sua trajetória de cantor. Ao lado de outros nomes da época, como Sérgio Murilo (“o rei do rock”), Ed Wilson (“o Elvis brasileiro”) e, mais adiante, os novos talentos da Jovem Guarda, levou adiante o rock no Brasil. Uma gênero musical que, só a partir das experiências e fusões feitas durante a década de 1960, poderá ser conhecido também por rock brasileiro.

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