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    Haroldo Lobo por Carlos Monte: era uma vez um craque da canção carnavalesca

    Pedro Paulo Malta

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    É possível que você não encontre em sua memória nenhum registro para o nome Haroldo Lobo. Mas se buscar entre as lembranças carnavalescas, é provável que não fique indiferente a versos como “Tristeza, por favor vá embora, minha alma que chora...” Ou “Alalaô, ôôô, ôôô... Mas que calor, ôôô, ôôô...” Ou então “Você não é mais meu amor, por que vive a chorar...?” Sucessos que colocam seu autor, Haroldo Lobo, entre os grandes compositores de música de carnaval em todos os tempos – segundo o jornalista e escritor Sérgio Cabral, ele faz parte da “santíssima trindade” do gênero, ao lado de João de Barro e Lamartine Babo.

    Nos 110 anos de seu nascimento (completados no dia 22/07), recorremos a um de seus maiores admiradores, o escritor e pesquisador musical Carlos Monte, para conversar sobre a trajetória do mestre. Histórias como as que Carlos conta na biografia que está para lançar sobre Haroldo Lobo, que, como tantos outros compositores brasileiros, não é tão conhecido quanto suas músicas. “Tenho assuntado sobre ele com os taxistas – que é como eu costumo testar a popularidade de determinada pessoa – e posso te dizer que ninguém faz a mínima ideia de quem ele seja”, constata o escritor, carioca de 81 anos. “Teve um que me perguntou se era o pai do Edu Lobo e outro que o confundiu com o Haroldo Costa. Por aí você já vê...”

    Haroldo Lobo era carioca da Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, onde comandava o Bloco da Bicharada, que saía com seus foliões fantasiados de animais e servia para o compositor testar seus novos sambas e marchinhas. Haroldo ganhava a vida como inspetor da guarda municipal, na Urca, onde volta e meia era procurado por cantores interessados em lançar suas composições. Uma vida dupla como a que seu próprio biógrafo se acostumou a levar, entre a profissão de engenheiro e a paixão pelo samba. Portelense de coração, Monte foi diretor da tradicional escola de samba em duas ocasiões e escreveu, com João Baptista M. Vargens, o livro “A Velha Guarda da Portela” (2001). Não à toa, a terceira de suas quatro filhas – a cantora Marisa Monte – é outro grande nome ligado à Portela.

    Mas só em 2010 ele começou a levantar histórias e músicas de Haroldo Lobo, inicialmente para um show que produziu festejando o centenário do compositor, com o conjunto Sururu na Roda. Com o tempo, aprofundou-se na pesquisa, com destaque para as composições menos conhecidas que foi ‘descobrindo’ no percurso. “Minha preferida do Haroldo?! É uma pergunta difícil, porque a resposta costuma mudar”, esquiva-se o biógrafo. “Ultimamente, tenho gostado de ‘Baile do pierrô’, que entendo como uma despedida da vida real. Saiu em 1963, gravada pela Dalva de Oliveira, dois anos antes da morte dele. Ouvindo essa marcha, me pergunto: será que a vida dele não terá sido um baile permanente?”

    “Outra composição pouco conhecida dele que eu adoro é ‘Hoje vou almoçar com você’, samba que ele fez com o Cristóvão de Alencar e é praticamente um quadro de humor: a pessoa não só se convida para almoçar, como diz que vai levar a família e ainda sugere o menu”, se diverte o escritor. Entre as músicas bem-humoradas do biografado destaca também as marchinhas “Pescador”, “História da maçã”, “Índio quer apito” e “Eu quero é rosetar”, todas co-assinadas por Milton de Oliveira, parceiro mais recorrente de Haroldo Lobo. “Há quem diga que o Milton não compunha, mas ‘trabalhava’ a música: contratava a orquestra, fazia a divulgação com os disque-jóqueis e até riscava com prego os discos de outros artistas. O próprio Haroldo dizia que devia a ele boa parte do sucesso de suas composições.”

    Outros grandes parceiros em sua obra são Wilson Batista (de “Emília” e "Rosalina"), Antônio Nássara (de “Alá la ô”) e Benedito Lacerda, que nos leva a mais uma história de Carlos Monte: “Um dos grandes sucessos do carnaval de 1945 foi uma parceria dele com o Benedito, que é ‘Coitado do Edgar’, até hoje um dos sambas mais lembrados do repertório dele”, observa o pesquisador. “O que pouca gente sabe é que essa música tem uma continuação, ‘E a rosa explicou’, feita também pelos dois e lançada logo depois daquele carnaval, em março. A primeira foi gravada pela Linda Batista e a segunda, pela irmã dela, Dircinha.”

    Além das engraçadas e das divertidas, o repertório carnavalesco de Haroldo Lobo tem ainda as românticas, como a marchinha “Serpentina” (com David Nasser) e os sambas “Juro” e “Pra seu governo” (ambos com Milton de Oliveira). “Uma nessa linha que eu adoro é ‘Quando os teus olhos fitei’ (também com Milton), um samba pouco conhecido que não sei se chegou a fazer sucesso na época do lançamento, em 1940, gravado por Orlando Silva.” Na mesma linha sentimental é “Tristeza”, parceria com Niltinho que se tornaria o maior sucesso de Haroldo, mas que ele, falecido em 20 de julho de 1965, não viu acontecer: nem a gravação de Ary Cordovil, lançada num compacto da RGE (clique para ouvir este primeiro registro), e muito menos seu estouro, no carnaval de 1966.

    Desfecho precoce – aos 55 anos incompletos – de uma história que, em breve, estará à disposição do público. “O texto já está feito e revisado e, mesmo assim, ainda estou fazendo ajustes aqui e ali”, conta Carlos Monte. “Falta ainda uma editora que se interesse pela publicação.”

    Foto: Sílvia Negreiros (caricatura de Cláudio Sendin)

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