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    No 12 de Outubro, uma playlist para homenagear a criançada de ontem e de hoje

    Fernando Krieger

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    “Criança feliz, feliz a cantar, alegre a embalar seu sonho infantil”... A meninada brasileira tem seu dia oficializado desde 1924, embora a comemoração só tenha se popularizado mesmo em nosso país a partir dos anos 1950. Mas a produção musical voltada para este público, ou inspirada nele, existe desde sempre: das cantigas folclóricas, de roda e de ninar até as marchinhas de Carnaval. Em homenagem ao dia tão especial para quem é ou já foi criança, elaboramos uma playlist com 20 músicas dentre as muitas da nossa MPB que remetem às canções da nossa infância.

     

    Villa-Lobos criou parte de sua obra dedicada aos pequeninos e pequeninas explorando temas do folclore e do cancioneiro infantil – vide o seu “Guia prático” e várias de suas peças para piano, como “A mão direita tem uma roseira”, primeira peça da série “Petizada”. Também os autores populares mergulharam nesse universo para se inspirar, criando novas músicas a partir deste repertório, inventando segundas e terceiras partes inéditas e mantendo como refrão a melodia e a letra conhecidas. Ou mesmo modificando sutilmente estas, como é o caso da releitura de Hekel Tavares e Olegário Mariano para “Sapo cururu”, levada ao disco em 1928 por Sérgio da Rocha Miranda e Gastão Formenti e em 1929 por Francisco Alves.

     

    “Meu limão, meu limoeiro” – que pode ter uma origem estrangeira, a exemplo de várias das nossas canções folclóricas e de roda – fez muito sucesso a partir de 1966 na voz de Wilson Simonal, em adaptação feita por José Carlos Burle, cuja versão completa foi apresentada em 1937 pela dupla Sílvio Caldas e Gidinho. “Samba Lelê” ganhou nova roupagem de Paulo Barbosa, levada ao disco por Carlos Galhardo em 1939.

     

    Um dos autores mais conectados ao mundo de imaginação e fantasia da gurizada certamente foi João de Barro, o eterno Braguinha, criador da famosa Coleção Disquinho de contos infantis que encantou várias gerações: “Chapeuzinho Vermelho”, “O macaco e a velha”, “Viveiro de pássaros”, “A cigarra e a formiga”, “Briga no galinheiro” e tantas outras fábulas, entre adaptações feitas por ele e histórias inéditas. Braguinha também enriqueceu a música brasileira com músicas inspiradas em temas de domínio público – caso de “Pirulito” (1939) e “Capelinha de melão” (1949), ambas em parceria com Alberto Ribeiro, e “Escravos de Jó” (1942) – e outras que, saídas de sua criatividade prodigiosa, tornaram-se clássicos instantâneos, como “Pirata da perna de pau” (1946) e “Tem gato na tuba” (1947, em parceria com Alberto Ribeiro). Estas duas marchas, vitoriosas no Carnaval, acabariam entrando para o rol das preferidas dos pequerruchos – a primeira devido a seu estribilho, pois sua letra possui certa malícia que só os adultos captam; a segunda marcou época na voz da Turma do Balão Mágico em 1982.

     

    Duas outras criações carnavalescas “viraram a casaca” e passaram para o repertório infantil sem dificuldade, embora tenham feito igual sucesso na festa de Momo. A “marchinha colegial” “A E I O U” – aquela mesma do dabliú, dabliú na cartilha da Juju – só poderia ter saído das cabecinhas travessas e gozadoras de Noel Rosa e Lamartine Babo. Este último gravou-a em 1931, fazendo uma breve menção a “Uma duas angolinhas” e “Ciranda, cirandinha” na introdução. E quem nunca brincou de “upa, upa, upa, cavalinho alazão” com a filharada ou a sobrinhada? “Upa upa (Meu trolinho)”, de Ary Barroso, fez a sua estreia em 1940, na voz de Dircinha Batista, que a registrara em disco no ano anterior.

     

    Voltando às adaptações, encontramos na MPB outros exemplos de canções infantis remodeladas e ampliadas. “Se essa rua fosse minha” acabou em samba em 1936, graças à engenhosidade de Roberto Martins e Mário Lago e à ginga vocal de Luiz Barbosa. Sua variante, “Nessa rua”, virou marcha de Ataulfo Alves e Wilson Falcão em 1937, interpretada com a graça de sempre por Aurora Miranda, que no ano anterior já havia mostrado o “Passa passa gavião” de Vicente Paiva e Mário Paulo.

     

    A irmã de Aurora, Carmen Miranda, cinco dias antes de sua primeira viagem aos Estados Unidos (1939), entrou em estúdio para colocar a voz em “Roda pião”, adaptação feita por Dorival Caymmi, que cantou junto com a Pequena Notável na gravação. Já “Peixe vivo” foi a inspiração de Rômulo Paes e Henrique de Almeida na criação do “Baião de Diamantina” – município de Minas Gerais onde nasceu o ex-presidente Juscelino Kubitscheck –, gravado, entre outros, pelo também mineiro (de Caxambu) Ivon Curi em 1956.

     

    Francisco Alves, no ano de sua morte, deixou duas contribuições: Vera Lúcia incumbiu-se do baião “A canoa virou”, de Chico e Felisberto Martins, enquanto o próprio Rei da Voz, 24 dias antes do acidente que o vitimou em 27/09/1952, eternizou a “Canção da criança”, parceria sua com René Bittencourt, cujo início é a frase que abre este texto: “Criança feliz, feliz a cantar...”. Com participação da locutora Lúcia Helena e do Coro das Crianças da Casa de Lázaro – instituição filantrópica para a qual a renda obtida com a venda do disco seria revertida –, a valsa saiu num 78 rotações lançado postumamente em outubro.

     

    Fazendo jus a seu nome artístico, o cantor e violonista Danilo Bossa Nova (Danilo de Souza) apresentou em 1963 uma “Terezinha de Jesus” bem joãogilbertiana, em adaptação feita por Rildo Hora. Descontando-se as dissonâncias, o ritmo sincopado e a levada característica do violão, é uma versão que respeita bastante a melodia e a letra que aprendemos na infância. Quem também primava pela fidelidade era o Coro e a Orquestra Carroussel, especializados em músicas folclóricas e infantis. Aqui, na página Discografia Brasileira, temos os áudios de 22 dos 23 discos de 78 rpm do grupo, que muitas vezes contava com as vozes de cantores e cantoras solistas. Dois registros do selo Carroussel, ambos sem data e com arranjos de Alberto Lazzoli, fecham a nossa playlist comemorativa: “Eu fui no Tororó”, com Haroldo Rosa e Alty Gonçalves nos vocais, e “Onde está a Margarida”, com Alty Gonçalves.

     

     

    Foto: Dircinha Batista / Coleção José Ramos Tinhorão / IMS


     

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