Ano a ser lembrado sem saudade, 2020 foi repleto de desafios para o mundo da música, que, em tempos de pandemia, teve que encontrar seus meios de sobreviver aos palcos e estúdios fechados. Entre “lives” e gravações caseiras, muitos roteiros incluíram homenagens a grandes nomes que partiram, como Aldir Blanc, Sérgio Ricardo, Moraes Moreira e tantos outros. Os aniversários redondos de músicos também serviram de mote a tributos diversos, inclusive aqui no site da Discografia Brasileira, onde festejamos os 110 anos de Noel Rosa e Haroldo Lobo e os 100 de Elizeth Cardoso, Roberto Silva e Elvira Pagã, entre outras efemérides. Pois é justamente relembrando os centenários completados em 2020 que nos despedimos – com uma playlist bem variada – deste ano que já vai tarde.
O primeiro nome da nossa lista, nascido no dia 17 de janeiro, é o do pianista e compositor carioca Bené Nunes (1920-1997), que abre nossa playlist tocando duas composições de sua autoria: o choro “Gostosinho” e o fox “Dulce, I love you”, dedicado à cantora Dulce Nunes, sua esposa. Já em 28 de fevereiro foi a vez de relembrar a vedete Virgínia Lane (1920-2014), que fez sucesso em carnavais na década de 1950, quando lançou as maliciosas “Sassaricando” (Jota Júnior, Luiz Antônio e Oldemar Magalhães) e “Marcha da pipoca” (Luiz Bandeira e Arsênio de Carvalho).
Em seguida relembramos Caco Velho (1920-1971), apelido de Mateus Nunes, porto-alegrense do dia 12 de março, aqui lembrado como compositor do samba “Que baixo” (parceria com o conterrâneo Lupicínio Rodrigues gravada pelo próprio Caco Velho) e do fado “Mãe preta” (com Piratini), sucesso na voz da portuguesa Amália Rodrigues – outra centenária neste ano. Aí veio 9 de abril e o samba festejou o carioca Roberto Silva (1920-2012), cantor dos sucessos “Normélia” (Raimundo Olavo e Norberto Martins) e “Mãe solteira” (Wilson Batista e Jorge de Castro).
A temporada das divas centenárias foi aberta no dia 5 de julho, data de nascimento de Carmen Costa (1920-2007), fluminense da cidade de Trajano de Moraes, que ouvimos na nossa seleção em dois sucessos lançados em sua voz: o samba-choro “Só vendo que beleza” (Henricão e Rubens Campos) e o samba-canção “Eu sou a outra” (Ricardo Galeno). Já a carioca Elizeth Cardoso (1920-1990), cujo centenário se completou em 16 de julho, comparece com dois clássicos do samba-canção: “Nossos momentos” (Luís Reis e Haroldo Barbosa) e seu primeiro sucesso, “Canção de amor” (Elano de Paula e Chocolate).
Em 6 de setembro, completaram-se os cem anos do nascimento de Elvira Olivieri Cozzolino, atriz e vedete mais conhecida por Elvira Pagã (1920-2003), paulista da cidade de Itararé que aparece em nossa lista com duas marchinhas: “Bambeio mas não caio” (composição de sua autoria gravada por Linda Rodrigues) e “Eu não te dou a chupeta” (Plínio Bretas e Silvino Neto), sucesso das Irmãs Pagãs – dupla que ela formou com a irmã, Rosina. No dia 10 do mesmo mês foi a vez de lembrar Leny Eversong (1920-1984), nome artístico da santista Hilda Campos Soares da Silva, cujo vozeirão pode ser ouvido em dois sucessos estrangeiros: “Jezebel” (Wayne Shanklin) e “Summertime” (George Gershwin e Du Bose Heyward).
Setembro teve ainda, no dia 14, os cem anos do cantor preferido de Ary Barroso, o carioca Ernani Filho (1920-1997), que pode ser ouvido em nossa seleção interpretando uma valsa de Ary, “Sombra e luz”, e o samba-canção “Faz uma semana”, composição da fase inicial de Tom Jobim – aqui parceiro de Juca Stockler. Do dia 25 era Maria de Lourdes Argolo Oliver, nome de batismo da maranhense Dilu Melo (1920-2000), lembrada neste post como intérprete do xote “Nos velhos tempos” (Altamiro Carrilho e Armando Nunes) e compositora da toada “Fiz a cama na varanda” (parceria com Ovídio Nunes), que ouvimos na voz de Inezita Barroso.
No mesmo clima regional encerramos as homenagens deste post lembrando Mário Zan (1920-2006), nome artístico de Mario Giovanni Zandomeneghi, italiano da cidade de Roncade que entrou para a história como um dos grandes acordeonistas da música brasileira. De sua trajetória selecionamos uma composição sua – “Chalana” (parceria com Arlindo Pinto), interpretada por Tonico Melo e Ninico – e a primeira gravação de Tonico e Tinoco para a toada “Tristezas do jeca” (Angelino de Oliveira), com acompanhamento do violão de Piraci e da sanfona de Mário Zan.
Foto: Carmen Costa (Coleção José Ramos Tinhorão / IMS)