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    Salve Vassourinha! Os cem anos do paulistinha que encantou o público com seu chapéu palheta e muita bossa

    Fernando Krieger

    tocar fonogramas

    Jeito moleque, sorriso aberto, muita bossa e malandragem na voz, ritmo batucado no chapéu de palha, precursor do samba de breque... parece a descrição de Luiz Barbosa. Na verdade, estamos falando de um dos seus herdeiros diretos: Mario Ramos, o popular Vassourinha, sensação do rádio paulista que conquistou até os ouvintes do Rio de Janeiro, então capital federal. O menino-prodígio que chegou a astro da música brasileira, cujo centenário celebramos neste 16 de maio, teve a brilhante carreira – quase oito anos de sucesso – abreviada abruptamente por sua morte precoce, em 03/08/1942, aos 19 anos.

    Muitos aspectos de sua vida permanecem nebulosos até hoje. O precioso e premiado documentário “A voz e o vazio: a vez de Vassourinha” (1998), de Carlos Adriano, é uma excelente fonte de pesquisa: sem depoimento algum, contém apenas gravações originais de Vassourinha e imagens de documentos diversos – arquivos manuscritos e datilografados, fotografias, programas, partituras e recortes de jornais. Analisando este material, nota-se que o cantor costumava se assinar Mario Ramos de Oliveira, nome que aparece em muitas reportagens publicadas na época e ainda no contrato firmado entre ele e a Rádio Record. Contudo, em sua certidão de óbito consta o nome Mario de Almeida Ramos, quase o mesmo (Mario Almeida Ramos) que está em sua lápide no Cemitério do Redentor, em São Paulo, vista nas cenas finais do filme.

    A Revista do Rádio de 07/11/1950 informava que ele nasceu “em São Paulo, numa casa modesta, no bairro da Barra Funda”. Já O Estado de S. Paulo de 26/05/1966 dizia que ele veio ao mundo “num porão da casa nº 35 da Rua Mendonça Carvalho [sic]” e estudou no Sagrado Coração de Jesus – que só foi inaugurado em fevereiro de 1937, quando Mario Ramos tinha 13 anos e já brilhava ao microfone da Rádio Record. O filho de Paulo de Almeida Ramos e de Thereza Joaquina Dias de Assumpção, segundo história divulgada dúzias de vezes por fontes diversas, teria começado como contínuo da emissora, varrendo o chão e cantando nas horas vagas, daí seu apelido famoso. Descoberto por Raul Duarte, o faxineiro tornou-se uma das estrelas daquela emissora.

    Mas, de acordo com Alberto Helena Jr. em reportagem publicada na Folha de S. Paulo (suplemento Ilustrada) de 21/08/1998, não foi bem isso que aconteceu. “Vassourinha nunca chegou a ser faxineiro da Record. Já entrou como cantor, por indicação de Jaime Faria da Rocha, um redator de publicidade”. Segundo Helena Jr., foi Jaime quem falou para Raul sobre um menino ritmista, “filho da empregada da pensão onde morava”, na região da Vila Buarque. Afirma ainda que Mario Ramos “apenas foi registrado como contínuo, por ares da legislação trabalhista da época, que não permitia a profissionalização de garotos no mundo do entretenimento”, ressaltando: “O garoto era um cantor de primeira”.

    Sobre seu nome artístico, há uma versão que, segundo Helena Jr., seria a verdadeira; esta remonta ao primeiro codinome recebido pelo jovem: “sua voz de menino ainda flutuava entre o registro feminino e o masculino. Por isso, Raul, de início, pensou em dar-lhe um nome andrógino, tipo Jurandi” – ou Juraci, conforme outros relatos. Segue o jornalista: “O garoto refutou, e o compositor Antônio Almeida, que acabou se transformando no autor da maioria dos sucessos do iniciante, foi na mosca: ‘Bota logo o nome de Vassourinha. Afinal, ele parece filho do Vassoura, gente’”.

    O “Vassoura” em questão, como conta Helena Jr., “era o anjo da guarda dos boêmios daquele tempo. Chofer de táxi, fazia ponto ali no Largo do Paissandu, em frente ao Ponto Chic, reduto de artistas, jogadores de futebol, jornalistas, poetas, pobres e coitados”. O homem “recolhia os bêbados, jogava-os no banco traseiro de seu Packard negro e levava-os para casa. Fazia, enfim, a faxina da madrugada, para que a manhã de São Paulo nascesse de cara limpa. Por isso, Vassoura”. E, por causa da semelhança com ele, o menino cantor virou Vassourinha.

    A estreia foi na Rádio Record aos 12 anos, em 1935, quando tornou-se rapidamente o xodó dos ouvintes. Em pouco tempo, passaria a ser um dos astros da emissora. Ainda em 1935, participou do filme “Fazendo fita”, dirigido por Victor Capellaro (Vittorio Capellaro), e conseguiu uma proeza: ser capa de uma das primeiras edições da revista Carioca (nº 7, de 07/12/1935), especializada em celebridades de rádio/disco/cinema do Brasil e de Hollywood – brancas, em sua grande maioria.

    Fora alguns (poucos) personagens anônimos, a Carioca havia publicado, em suas seis primeiras edições, fotografias de apenas quatro personalidades negras: o pugilista Joe Louis (edição nº 2), Augusto Calheiros e um dos integrantes do duo Black and White (na mesma página da nº 4) e Francisco Sena, posando ao lado de seu companheiro da dupla Preto e Branco, Herivelto Martins (nº 5). Na edição de Vassourinha, aparecia numa das páginas internas a imagem do veterano Patrício Teixeira. O leitor veria uma pessoa negra novamente na capa de Carioca apenas na edição 70 (de 20/02/1937): um trapeiro (catador de papel) anônimo, personagem da matéria central da publicação.

    Aos poucos, o garoto ia conquistando não só o público, mas a própria classe artística, que igualmente se encantava com ele, como mostrava o Correio Paulistano de 06/02/1936. O repórter, ao comentar sobre a apresentação, no dia anterior, das irmãs Carmen e Aurora Miranda no Cine-Teatro República, com participação de artistas locais, é enfático: “Sem destacar ninguém – pois todos saíram-se a contento – seria crassa injustiça se não elogiássemos a atuação soberba do pretinho Vassoura, um sambista de doze anos, que revelou uma ‘bossa’ que foi até reconhecida pela Carmen, que se confessou ‘abafada’...”. O mesmo jornal destacava, em 21/06/1936, a apresentação de Francisco Alves no Teatro Sant’Anna, com participação do “impagável Vassourinha”, e em 09/10/1936 o concurso do menino-prodígio na noite de arte que teria como destaque a cantora e vedete Aracy Cortes.

    Rodeado por seus ídolos, o pequeno sambista não ia perder a chance de tietá-los. Aproveitando as fotos que as celebridades da época costumavam usar para divulgação, ele pedia que os colegas as autografassem. Vassourinha guardou essas preciosidades em dois álbuns, junto com fotografias de sua infância, imagens de familiares, de pessoas amigas e cenas de suas apresentações profissionais. Os álbuns fazem hoje parte do Acervo José Ramos Tinhorão do IMS (catalogados como álbuns 02 e 03).

    Através das dedicatórias, pode-se ver como o jovem cantor era querido por seus pares. “A Vassourinha, ‘O grande mignon do samba’, um forte abraço da dupla Verde Amarelo” (formada por Wilson Batista e Erasmo Silva); “Para o Vassourinha, o mignon cantor-sambista, lembrança das Pagãs” (Rosina e Elvira); “A Vassourinha, o falado do samba, com um forte abraço do Déo” (seu companheiro na Rádio Record); “Ao colega Vassourinha como lembrança oferece A. [Augusto] Calheiros”; “Ao Vassourinha, garotinho formidável, oferecem esta lembrança As Mirandinhas” (Carmen e Aurora – desta segunda, ele ainda conseguiria mais duas fotos assinadas); “Vassourinha amigo, esta é uma lembrança de seu velho amigo Henricão e Carmen Costa”; “Ao Vassourinha, original intérprete da nossa música, a homenagem de Joel e Gaúcho”; “Para o meu queridinho colega Vassourinha oferece sua sempre amiga Isaura Garcia”.

    Isaurinha (cujo centenário comemoramos neste post), apenas três meses mais velha do que Vassourinha, em muitas ocasiões dividiu o palco e o microfone da Record com o colega mirim. Vassourinha, aliás, fez muitas amizades no rádio: segundo A Cena Muda de 11/02/1953, ele e Risadinha (Francisco Ferraz Neto) viviam grudados como carrapatos. Foi ainda uma espécie de padrinho de Dorival Silva: além de lhe dar oportunidades em espetáculos de variedades, criou o nome artístico – Chocolate – com o qual o compositor e comediante ficaria conhecido.

    “A maior revelação paulista no momento”, como o classificou a Carioca de 11/04/1936, começou neste ano a ganhar espaço nas rádios de outras praças, sempre com o mesmo sucesso. Aos 13, estava no Rio de Janeiro conquistando os públicos da Cruzeiro do Sul e da Mayrink Veiga. Com 14 anos (1937), fez temporada de um mês na Difusora de Porto Alegre e cumpriu contrato no Cassino Estância das Mercês, em Curitiba, junto com a dupla Verde e Amarelo (Erasmo Silva e Wilson Batista, que iniciou uma sólida amizade com o “Moleque do Samba”, apesar da diferença de idade entre eles: 10 anos). Em 1938, brilharia na Inconfidência Mineira, de Belo Horizonte.

    No início deste ano, em fevereiro, Carmen e Aurora Miranda haviam partido para novas temporadas na Record e no Teatro Coliseu, em São Paulo, “e, dessa vez, para o circuito dos cassinos: Franca, Ribeirão Preto, Campinas, Santos, Poços de Caldas. Com elas estavam Silvio Caldas, Almirante, Jorge Murad e a nova revelação do samba, o cantor paulistano Vassourinha, de quinze anos [obs: incompletos], que se apresentava vestido como mensageiro de hotel de luxo”, conta Ruy Castro em “Carmen: uma biografia” (Companhia das Letras, 2005).

    A mesma trupe (com exceção de Jorge Murad) voltou ao roteiro dos cassinos do interior de São Paulo na segunda quinzena de janeiro de 1939. Vassourinha, aos 15 anos, já frequentava ambientes próprios para adultos. O grill-room do Cassino de Campinas o contratou, segundo a Carioca de 09/09/1939, para se apresentar no dia de sua inauguração – aqui o jovem estava com 16 anos. Ainda com esta idade, conforme anúncio publicado no Diário da Noite de 04/01/1940, participou de um evento com diversos artistas no Cassino Atlântico, do Rio.

    Querido pela imprensa, que publicava muitas fotos suas, além de matérias sempre exaltando seu talento, Vassourinha não escapou de passar, assim como outros famosos de sua época, pela experiência de receber elogios – provavelmente sinceros – eivados de palavras discriminatórias e racistas. Havia uma especialmente pejorativa, importada dos Estados Unidos, usada em diversas reportagens para rotular os artistas negros, inclusive ele: “O moleque colored da Rádio Record” (Correio Paulistano, 08/02/1936); “O sambista colored” (Correio da Manhã, 08/02/1941).

    O “bam-bam-bam do chapéu de palha”, como foi chamado em matéria de O Estado de S. Paulo (26/05/1966), não disfarçava a admiração por Luiz Barbosa (1910-1938), sendo considerado por muitos como o herdeiro musical do criador do samba de breque. Barbosa fez escola em São Paulo, onde tinha “imitadores” como a dupla formada por Fernandinho e Jeanette Thadeu, a “Garota do Chapéu de Palha”, além de ter sido uma das inspirações de João Rubinato quando este, para homenageá-lo, adotou o nome artístico de Adoniran Barbosa. Outros discípulos foram Cyro Monteiro (e sua indefectível caixa de fósforos), Dilermando Pinheiro – craque no pandeiro e no chapéu palheta – e Moreira da Silva. Quatro dias após o falecimento de Barbosa (08/10/1938), a Record o reverenciou com um programa especial, que “contou com a valiosa participação de Jeanette e Vassourinha, dois artistas paulistas que abraçaram o gênero criado por Luiz Barbosa” (Carioca, 22/10/1938).

    Mas estava faltando algo: a sensação do rádio paulista não lançava discos. Não existem registros sonoros de Vassourinha entre 1935 e 1940, ou seja, entre os seus 12 e 17 anos, período em que ele fazia um tremendo sucesso interpretando ao microfone um sem-número de músicas. “Aos 18 anos de idade, Vassourinha estava afiado como nunca (...). Seus seis anos de carreira correspondiam a eras geológicas”, afirma Rodrigo Alzuguir em “Wilson Baptista: o samba foi sua glória” (Casa da Palavra, 2013).

    Neste intervalo, conta Alzuguir, ele “mambembara por labirintos de cidades, abafara numa centena de festivais e cassinos, cantara e fizera amigos no Rio de Janeiro, passara por três partners – a morena Agrippina, a negra Haydée Marcondes e a loura Isaurinha Garcia –, tivera seu salário multiplicado por seis, começara a barbear-se e, por fim, mudara de voz”. Ainda segundo o autor, Wilson Batista queria “que Victorio Lattari desse uma chance a Vassourinha na Victor”. Mas Antônio Almeida foi mais rápido: estando em São Paulo, o compositor conversava com Blota Júnior e Raul Duarte numa sala da Record quando escutou o rapaz cantando um samba (de autoria do próprio Almeida) no estúdio em anexo.

    De volta ao Rio, Almeida convenceu seu parceiro João de Barro – diretor da Columbia carioca – a dar uma chance ao “herdeiro artístico de Luiz Barbosa”. Braguinha mandou chamá-lo à Cidade Maravilhosa – e ele levou a amiga Isaurinha Garcia a tiracolo. Ambos, aos 18 anos, entraram em estúdio no mesmo dia, 23/06/1941, para as respectivas sessões de gravação, primeiro ela, depois ele. Vassourinha, segundo Alzuguir, de cara lançou no acetato quatro músicas, que fariam parte dos seus dois primeiros discos (seriam apenas seis em sua curta carreira fonográfica, num total de 12 faixas).

    “Seu Libório” ele já cantava aos 12 anos, conforme informação do Correio Paulistano de 08/02/1936. O samba-choro de João de Barro e Alberto Ribeiro havia sido lançado por Luiz Barbosa no filme “Alô, alô, Carnaval”, feito em 1935. Mas Barbosa nunca chegaria a gravá-lo em disco; a primazia acabou sendo mesmo de Vassourinha. Do outro lado do seu primeiro 78 rotações estava “Juraci” (para maiores detalhes, ver o post sobre o disco de estreia de Vassourinha).

    A bolachinha seguinte trazia as outras músicas registradas naquela sessão de gravação: os sambas “Ela vai à feira” e o grande sucesso “Emília”, personagem que “entraria para a história da música popular brasileira como a personificação da dona de casa exemplar, perfeita para compor, de braços dados com o homem trabalhador (...), o modelo de casal proletário estado-novista”, explica Alzuguir, continuando: “Sua popularidade instantânea abriria caminho para outras esposas igualmente prendadas, dedicadas e leais – em especial Amélia, ‘a mulher de verdade’ do samba de Ataulfo Alves e Mario Lago, que viria à luz no Carnaval seguinte”.

    O terceiro 78 rpm trazia duas marchas, “Chik chik bum” e “Apaga a vela”. No quarto, o cantor apresentava o samba carnavalesco “Olga” e a marcha “Tá gostoso”. Em 1942, Vassourinha – “a essa altura a menina dos olhos da gravadora Columbia e plenamente integrado às rodas boêmias do Rio”, nas palavras de Alzuguir – lançou seus derradeiros discos. O penúltimo vinha com dois sambas, “Amanhã eu volto” e mais um clássico de Wilson Batista (que aparece no rótulo como J. Batista, ao lado de Antônio Almeida), em sua primeira composição futebolística, “... E o juiz apitou” – este, gravado por Vassourinha em 15/05/1942, acabaria se configurando no último registro de sua voz. Três dias antes, ele havia entrado em estúdio para legar à posteridade mais dois sambas, “Volta pra casa, Emília” e “Amanhã tem baile”, que chegaram às lojas em junho.

    Houve mesmo um baile neste mês, em homenagem a Vassourinha – então já enfermo –, como anunciava o Correio Paulistano de 26/06/1942. Em correspondência datada de 28 de junho, assinada por Paulo Machado de Carvalho e destinada a dona Thereza, a Rádio Record reiterava o pedido para que seu filho fosse internado numa casa de saúde. Antes mesmo de completar 19 anos, o jovem já andava abatido, agarrando os cotovelos, sentindo dores. Estava nesse estado quando fez seus últimos registros fonográficos. Quem o levou ao médico foi o compositor Ciro de Souza, conforme depoimento deste a Bruno Ferreira Gomes, que o publicou em “Wilson Batista e sua época” (Funarte, 1985) – o episódio foi resgatado por Alzuguir em seu livro, com mais detalhes.

    Saindo do estúdio da Columbia com Vassourinha febril, e vendo sua expressão angustiada e abatida, Ciro o levou ao consultório do Dr. Mário Braune, na Rua São José, no Centro do Rio. Após o exame, e ao saber quem era o paciente, o médico aplicou-lhe uma injeção e disse que o paciente deveria ir para sua casa em São Paulo. Ordenou a Ciro que o colocasse imediatamente no trem e alertou que o rapaz talvez nem chegasse vivo ao destino. Segundo o Dr. Braune, Vassourinha estava com endocardite reumática, sendo portador de reumatismo poliarticular agudo, que já atingia o coração.

    Sem notícias durante quatro dias, Ciro resolveu ir vê-lo em São Paulo. Encontrou-o “acamado e ofegante”, com uma aparência “de cortar o coração”. O depoimento de Isaurinha, que também foi visitá-lo, é forte: “Eu soube que o médico lhe calcava o dedo na testa e os ossos afundavam, como se virassem pó”. Na certidão de óbito, a causa da morte foi descrita como “tuberculose pulmonar e óssea – cachexia [caquexia]”.

    Já dona Thereza tinha outra opinião. Ao participar de um especial de televisão em homenagem ao filho, produzido por Alberto Helena Jr. e exibido na TV Record em 1966 – com participações de Raul Duarte, Isaurinha Garcia e Dilermando Pinheiro –, ela teria dito, segundo O Estado de S. Paulo de 26/05/1966 (que anunciava para aquela noite a exibição do programa), que “não foi doença que levou seu filho, mas mandinga feita pelo pessoal do Rio que invejava seu sucesso”.

    No dia seguinte ao falecimento, Vassourinha foi sepultado no Cemitério do Araçá, sob forte comoção, como relatou Helena Jr. em 1998: “Além da grande afluência de fãs, deu-se que seu pai, seu Ramos, movido pela dor da perda irreparável, exagerou na dose e armou o maior fuzuê. Houve gente pisando no caixão, corre-corre, empurra-empurra, gritos e imprecações”. Cinco anos depois, em setembro de 1947, seus restos mortais foram trasladados para o vizinho Redentor.

    O cantor da Barra Funda deixou pelo menos dois candidatos a herdeiros musicais: Batista de Sousa, chamado de “Sucessor de Vassourinha” (Correio Paulistano, 27/06/1944), e Gasolina (Antônio Monte de Souza), que gravaria “Seu Libório” em 1957. Luiz Barbosa, primeiro intérprete deste samba-choro e inventor do samba de breque e da batucada no chapéu palheta, foi-se aos 28 anos. Vassourinha, seu herdeiro direto, conseguiu ser ainda mais breve. Deixou uma lacuna, um sentimento de incompletude, que Rodrigo Alzuguir resume de maneira primorosa: “Era como se o destino – a exemplo do juiz no último samba que Vassourinha gravara – tivesse apitado, muito antes do que devia, o fim do tempo regulamentar”.

    Foto: Coleção José Ramos Tinhorão / IMS

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