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    Do Carnaval ao sertão, entre Marias e Luas: as músicas de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti que o povo consagrou

    Fernando Krieger

    tocar fonogramas

    “Dupla de militares boêmios”. No Jornal do Brasil de 01/06/2003, Tárik de Souza definiu assim os oficiais-compositores que frequentaram, com a mesma dedicação, tanto a caserna quanto a Casa Nice (o popular Café Nice), reduto de bambas no Centro do Rio de Janeiro. Que souberam se dividir entre quepes e chopes, entre as marchas militares e as marchinhas criadas por eles para foliões e folionas cantarem à exaustão. Que formaram uma das mais vitoriosas parcerias da música popular brasileira. Dois campeões do Carnaval e do samba que ainda presentearam o Rei do Baião com um dos maiores êxitos da sua carreira.

    Há 110 anos, no dia 19 de abril de 1914, nascia o recifense Armando Cavalcanti de Albuquerque; já o carioca Klecius Pennafort Caldas veio ao mundo em 6 de maio de 1919 – 105 anos atrás. Uma terceira efeméride é comemorada neste 2024: os 80 anos de quando ambos se conheceram. Quem conta é Klecius Caldas em sua autobiografia “Pelas esquinas do Rio: tempos idos e jamais esquecidos” (Civilização Brasileira, 1994): “No ano de 1944, um fato mudou inteiramente a minha vida. Conheci Armando Cavalcanti. Com ele vieram uma sólida amizade de 20 anos, a minha entrada para a música popular brasileira e o meu casamento com sua prima Celina”.

    Lembra Klecius que os dois moravam “no mesmo prédio da Avenida Copacabana nº 287”, no Rio de Janeiro, e se esbarravam nos elevadores e na praia. “Embora fôssemos ambos militares (...), não tínhamos tido qualquer aproximação, até que pensei em fazer concurso para a Escola do Estado-Maior do Exército. Ele quase que ao mesmo tempo teve a mesma ideia, e assim acabamos reunidos pelo estudo. Nos intervalos, ele pegava o violão e cantava um repertório brasileiro que de um modo geral não me agradava muito”, recorda Klecius, mais afeito à “música americana que vinha com tratamento orquestral refinado e cantada com suavidade”.

    Seu futuro parceiro, segundo Klecius, “gostava também de tangos e boleros que cantava com voz bonita, apesar de arranhada pelo fumo e pela bebida”. Armando já tinha uma certa experiência como compositor: estreara em disco aos 23 anos, em 1937, com o samba “Minha deusa partiu” – com Caio Lemos –, gravado pelo Bando da Lua. Ainda com Caio Lemos, teve um samba e uma marcha lançados respectivamente em 1941 e 1942 por Sílvio Caldas e pelo conjunto Anjos do Inferno. “Certa noite, me pediu que escrevesse algo para ele musicar”, conta Klecius.

    “Velho bar” foi a primeira criação da dupla Armando Cavalcanti-Klecius Caldas, estreada – por intermédio de Haroldo Barbosa, amigo de Klecius – na Rádio Nacional pelo Rei da Voz em pessoa, Francisco Alves. O samba só seria lançado em long-playing em 1958 por Helena de Lima; décadas mais tarde, o selo Revivendo resgataria o registro de Chico Alves, que pode ser escutado no CD “O Rei da Voz na Rádio Nacional – vol. 1”. “Foi a partir daí que peguei uma séria doença que poderia ser diagnosticada como compositorite...”, brinca Klecius, completando: “Nunca fizemos o tal curso do Estado-Maior, que nos tinha reunido. Em compensação, prestamos vestibular para a Música Popular Brasileira, e com certeza passamos e fomos diplomados (...)”.

    A primeira composição dos dois a chegar ao disco de 78 rotações, em junho de 1948, foi feita na verdade a seis mãos, como explica Ruy Castro em “A noite do meu bem: a história e as histórias do samba-canção” (Companhia das Letras, 2015): “Dois jovens oficiais do Exército, os capitães Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, matavam as aulas para o concurso da Escola do Estado-Maior e fugiam para um botequim vizinho ao quartel, na Praia Vermelha, para compor sambas e marchinhas. Certa noite juntou-se a eles o tenente Antônio de Pádua Vieira – que, em música, adotara o nome de Luiz Antônio – e, fardados, entre conhaques e chopes, escreveram um samba-canção sobre um casal que espera um filho”.

    Fãs de Dick Farney – Klecius e Armando chegariam a fazer parte do Sinatra-Farney Fan Club, fundado em 1949 –, decidiram mostrar a composição, “Somos dois”, para o cantor. Klecius foi à residência deste em Santa Teresa e cantou a música – em inglês. Dick perguntou se não havia uma versão em português. Foi esta que ele gravou, com arranjo de Radamés Gnattali. Seria o batismo da dupla em disco, pela voz aveludada de Dick, que levaria ao acetato outras criações deles, inclusive uma natalina feita a seu pedido, mais tarde rebatizada como “Noite azul” e bastante elogiada pela imprensa, como mostrava A Cigarra de janeiro de 1950:

    “Armando Cavalcanti é, sem dúvida, a maior revelação de compositor popular dos últimos tempos. Tendo em Klecius Caldas, autor das letras de suas produções, um excelente colaborador, o jovem musicista lançou recentemente a canção ‘Feliz Natal’, que está obtendo um êxito invulgar”. Sambas, canções e sambas-canção seriam ritmos obrigatórios na discografia de ambos e de seus intérpretes, como Dick Farney, Francisco Alves, as irmãs Linda e Dircinha Batista e Dalva de Oliveira, lançadora de “Poeira do chão” (1952) – um dos rounds da batalha musical que ela travou com o ex-marido Herivelto Martins – e “Neste mesmo lugar” (1955). Este samba-canção teve arranjo de um ainda iniciante Tom Jobim, que seria parceiro de Armando Cavalcanti em dois sambas de 1956, “Sonho desfeito” (também de Paulo Soledade) e “Pé grande”.

    No mesmo 1948 em que Klecius e Armando debutaram na indústria fonográfica, Nuno Roland gravou a primeira marcha da dupla, lançada em janeiro de 1949 para o Carnaval. “Fígado lá, fígado cá” brincava com a cavatina “Largo al factotum”, a famosa ária de Fígaro da ópera-bufa “O barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Mas foi a “Marcha do gago” – presente no disco de estreia do comediante Oscarito, em dezembro de 1949 – que caiu nas graças do povo: “Tá-tá-tá, tá na hora / Va-va-vale tudo agora / Sou mo-mole pra fa-falar / Mas sou um Pintacuda pra beijar” (referência ao ítalo-argentino Carlo Maria Pintacuda, famoso piloto de corridas da época).

    “A ‘Marcha do gago’ (...) foi sem dúvida a maior surpresa do Carnaval que passou. Classificada em penúltimo lugar com 54 pontos no concurso de músicas carnavalescas, patrocinado pela prefeitura do Distrito Federal, foi entretanto um sucesso na rua e nos bailes” (O Cruzeiro, 04/03/1950). Já em 1954, Klecius e Armando alcançariam o primeiro lugar no concurso da prefeitura com uma espécie de “continuação” desta marcha, novamente tendo “um sujeito que era gago” como protagonista: “É ou não é ‘Piada de salão’ / Se acham que não é, então não conto não”, gravada no anterior por Blecaute, um dos intérpretes mais frequentes da dupla desde 1950, quando levara ao acetato a marcha “Papai Adão”: “Hoje é Eva quem manobra / E a culpada foi a cobra”.

    Personagens femininas seriam presença constante na obra de Klecius e Armando, que, ao lado de David Nasser, homenagearam as moças em 1949 na “Marcha dos brotinhos” – a palavra “broto”, a planta no seu estágio inicial de desenvolvimento, por analogia costumava ser usada na gíria como sinônimo de gente jovem. A dupla evocaria os brotos em outras ocasiões, como nas marchas “Aula de amor” (1957) e “Broto dá galho” (1964). Muitas vezes – como era costume à época – as “homenagens” vinham carregadas de preconceitos e machismo, e Klecius e Armando não fugiram à regra. Vide as marchas “Estou em todas” (“Mulher passou, olhou, eu pego”) e “Pra macaco vigiar” (“Carro, cavalo e mulher, Deus me livre de emprestar”).

    Mesmo caso do samba – que chegou a fazer sucesso! – “A mulher que é mulher”; esta, na acepção da dupla, seria a que “não quer saber de intriga: diga o povo o que quiser, é a melhor amiga”, “não deixa o lar à toa”, “se o homem errar, perdoa”. Já na marcha “Tirone Povér” (gozação com o astro de Hollywood Tyrone Power), de 1954 – dez anos antes da “Cabeleira do Zezé” de João Roberto Kelly –, eles voltavam sua munição contra os rapazes que não usavam cabelo reco como seu colegas de farda: “Com essa cabeleira você parece Ava ‘Gardinér’ [referência à atriz Ava Gardner] / Moço que usa topete só se compromete / Mulher é que se enfeita como pode / Enfeite de homem é bigode”.

    Deslizes de autores que também sabiam ser líricos e poéticos, como nos sambas-canções que faziam e nas “Luas” que ainda estavam por vir. Ou numa série de composições nordestinas, nascidas dos talentos combinados de um carioca e de um pernambucano. Admiradores de Luiz Gonzaga, conheceram o cantor-compositor-sanfoneiro na Rádio Nacional, descobrindo que ele havia sido cabo-corneteiro do regimento de Infantaria comandado por Armando. Combinaram então de fazer uma música para o Lua gravar. Assim surgiu “Sertão de Jequié”.

    Que acabaria mudando de “dono”, ou melhor, de “dona”: recém-saída do Trio de Ouro, Dalva de Oliveira estava à procura de material para sua carreira solo. Klecius e Armando mostraram obras de sua lavra, inclusive a toada, que já estava prometida a Luiz Gonzaga. Dalva não quis saber: foi até o Rei do Baião e disse que iria gravar a música, argumentando – segundo Klecius – que ele, Gonzaga, tinha um repertório muito grande, ao passo que ela “estava começando”... (detalhe: ela havia estreado em disco, com o trio, anos antes do próprio Gonzaga...)

    “O Luiz cedeu com a condição de que fizéssemos outra para ele”, conta Klecius em seu livro. A Dominique Dreyfus, autora de “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga” (Ed. 34, 1996), ele admitiria: “Nós não tínhamos a mínima experiência de vida rural. Mas a inspiração veio... a partir da trilogia do campo: o boi, os filhos e a mulher”. Aí foi um estouro. “Vai, ‘Boiadeiro’, que a noite já vem / Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem”. A toada de 1950 viraria o prefixo musical de Luiz Gonzaga no rádio e se tornaria um dos seus carros-chefes vida afora. O próprio Gonzaga a regravaria algumas vezes – mas nenhuma das versões posteriores traria o belíssimo aboio escutado no final do fonograma original.

    No ano seguinte, outro gol de placa, como explica Dominique Dreyfus: “Já que a trilogia dera certo, fazendo imenso sucesso, a dupla propôs nova trilogia, mais lúdica desta vez: cigarro (de ‘paia’), rede (de malha) e animal (cachorro trigueiro e o cavalo ligeiro)... faltando ao protagonista o principal, ‘uma bonita morena’”. Mais um êxito no matolão de Gonzaga: “Cigarro de paia”, lançado em 1952. O gênero nordestino inspiraria várias criações de Armando e Klecius, como o “Baião serenata”, o “Baião internacional” e “Ao clarão da fogueira”, com sabor de festa junina.

    Klecius Caldas (O Cruzeiro, 14-02-1953) e Armando Cavalcanti (A Cigarra,  março de 1954)
    Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
     

    “Entre os compositores mais jovens no meio musical, os nomes de Klecius e Armando Cavalcanti já alcançaram uma grande notoriedade. Apesar do pouco tempo de ‘cancha’ que esta dupla tem, já se tornou praticamente veterana, tais os sucessos alcançados com seus sambas e marchas”, destacava a Ultima Hora de 07/03/1952. A matéria vinha a propósito de mais um estouro da parceria: “(...) Armando e Klecius têm sempre seu peixe para vender. Este ano tiveram vários. Destacou-se no entanto, nitidamente, das demais a marcha ‘Maria Candelária’ em gravação de Black-Out [sic]”.

    “(...) no Carnaval de 52, a alta funcionária Maria Candelária saltava de paraquedas e caía na letra ‘O’ (escala máxima na carreira do funcionalismo público), sem trabalhar”, explicaria Alberto Carvalho na Manchete de 18/02/1995. “A célebre Maria Candelária (...) era a caricatura da funcionária pública empistolada, protegida pelos chefes, na letra ‘O’ do fim de carreira”, complementava o Jornal do Brasil em 13/12/2000. Teve “o nome inspirado (segundo Klecius) no ponto de ônibus da Candelária, onde muitas funcionárias esperavam condução todas as tardes, ao tempo em que o Rio era capital federal”, contam Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello no primeiro volume de “A canção no tempo” (Ed. 34, 1997).

    Foi uma super sacada – mistura de denúncia e humor – de Klecius e Armando. Tão bem sucedida que geraria duas personagens homônimas: a também célebre “Maria Escandalosa” (1955), primeiro lugar no concurso da Rádio Mundial (segundo a Revista do Rádio de 19/03/1955), e a menos conhecida – mas igualmente irônica – “Maria Champanhota” (1956), todas cantadas por Blecaute. Haveria ainda outra Maria fora desta série: a sofrida “Maria das Ruas”, um samba-canção que resgatava, em 1963, a temática já levada ao disco pelos autores em 1950 com “Anjo da noite”.

    Sua produção na década de 1950 ia de vento em popa: ótimos sambas como “Ninguém vai reparar”, “Máscara da face” – grande momento de Dircinha Batista – e “Eu errei, confesso”, além de muitas marchas – do curió, da touca, da penicilina, do resfriado, de Paris, de Copacabana –, uma das quais teve destaque no exterior, apesar de pouco divulgada no Brasil: “Notícias de Buenos Aires informam que a marchinha carnavalesca (de Klecius e Armando Cavalcanti) ‘Carnaval, Carnaval’, gravada por Dalva de Oliveira na Odeon, é um dos grandes sucessos da atualidade na capital argentina”, informava a Revista do Disco de março de 1956.

    No ano seguinte, foram lançados os satélites soviéticos Sputnik 1 e 2, os primeiros a orbitar o planeta. Em 1958, os estadunidenses enviaram o Explorer 1 ao espaço. “A expectativa de o homem ir à Lua motivou Klecius Caldas e Armando Cavalcanti a criarem uma série de belas marchas sobre o tema, duas das quais Ângela Maria emplacou”, explica Rodrigo Faour na sua “História da música popular brasileira, sem preconceitos” (Record, 2021). A primeira, tendo Brazinha como parceiro da dupla, consistia numa “defesa contra as incursões antipoéticas à Lua” e, “embora fugindo ao toque carnavalesco habitual, (...) foi legítimo êxito”, recorda Edigar de Alencar no livro “O Carnaval carioca através da música” (Francisco Alves, 1979, 3ª edição): “Todos eles estão errados / ‘A Lua é dos namorados’ / (...) Lua, ó Lua / Não deixa ninguém te pisar”. Um mega sucesso de 1960.

    Em 1961, após Iuri Gagarin se tornar o primeiro homem a ir ao espaço, Klecius e Armando trouxeram “A Lua e Colombina” para a discussão. A terceira e lindíssima marcha, de 1962, novamente na voz da Sapoti, repetiu o estrondoso sucesso da primeira: “Vem, que ‘A Lua é camarada’ / Em teus braços quero ver / O Sol nascer”. No ano seguinte, de novo Ângela Maria, e o tema – claro – era “Sempre o luar”. Já “Lua cheia”, composta pela dupla em homenagem ao 4º Centenário do Rio de Janeiro (1965), seria gravada em 1964 por Ângela no LP “Carnaval Rio quatrocentão”. A cantora, em 1965, ainda levaria ao disco a póstuma “Só nós dois e a Lua”, faixa do compacto duplo “Carnaval Copa 66”.

    “Ano terrível esse de 1964. Além de tanta coisa ruim que tem acontecido, ainda nos leva Ary Barroso e Armando Cavalcanti”, escreveu Sérgio Cabral no Correio da Manhã de 17/05/1964, em matéria sobre Armando, general reformado, falecido aos 50 anos, vítima de um infarto, em 12 de maio daquele ano – e não 15 de maio, como apontam muitas fontes. A data correta do seu falecimento está referenciada não só nas reportagens dos jornais da época (dos dias 13 e 14), mas também no livro do parceiro Klecius Caldas e no próprio túmulo de Armando, inaugurado no Dia do Compositor (7 de outubro) pela Sbacem – Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música, da qual ele fazia parte. A edição do Boletim da Sbacem nº 70 (novembro/dezembro de 1965) trazia, em sua página 10, uma foto da lápide recém-inaugurada, onde se lê, além das datas de nascimento e morte, os versos iniciais de “A Lua é camarada”: “A noite é linda nos braços teus / É cedo ainda pra dizer adeus”.

    Armando Cavalcanti e Klecius Caldas deixaram nada menos do que 101 composições gravadas entre 1948 e 1964 (segundo levantamento feito nas páginas do Instituto Memória Musical Brasileira e Discografia Brasileira): destas, somente dez foram compostas pela dupla com outros parceiros; 91 aparecem assinadas apenas pelos dois. Em discos de 78 rotações, foram 87 músicas – sendo a última delas o samba “Um instante, maestro”, lançado por Marlene em 1963 –; as outras 14 vieram ao mundo já na era dos LPs. Fora aquelas que, mencionadas em matérias da imprensa, não chegariam ao disco – ao menos não com os mesmos títulos –, como “Interessa” (Revista do Rádio, 10/04/1951), “Já vai?” (Revista do Rádio, 02/10/1951), “Restinga de Marambaia” (Revista do Disco, abril de 1954) e “O cachorrinho da madame” (O Mundo Ilustrado, 1954, e Revista do Rádio, 22/05/1954).

    Klecius Caldas – coronel reformado do Exército, falecido em 22/12/2002, aos 83 anos – seguiria compondo ao lado de outros colegas (de música, de farda ou de ambas), especialmente o também militar Rutinaldo (Ruthnaldo de Oliveira e Silva), com quem fazia dupla desde 1960. Klecius e Rutinaldo legariam ao Carnaval uma verdadeira obra-prima: a marcha-rancho “O primeiro clarim”, que Dircinha Batista gravaria em 1969 para o LP “Carnaval 1970”: “Hoje eu não quero sofrer, hoje eu não quero chorar / Deixei a tristeza lá fora, mandei a saudade esperar / Hoje eu não quero sofrer / Quem quiser que sofra em meu lugar”.

    Mas continuaria recordando o ex-parceiro com saudade: “Sendo uma pessoa de inteligência fora do comum, teve grande importância na minha vida e está presente na maior parte destas minhas crônicas”, escreveu em sua biografia. A admiração era recíproca, a julgar por uma declaração publicada por Sérgio Cabral no Correio da Manhã de 17/05/1964: “‘Quando você falar em mim, não esqueça de falar também no Klecius Caldas. Ele é ótimo e sem ele eu não seria nada’ – era a advertência que Armando me fazia sempre (...)”. Sérgio Cabral, na mesma matéria, seria categórico ao definir a vitoriosa dupla: “Na verdade, eles eram mais do que simples parceiros, mas amigos e irmãos de alma”.

    Foto principal: montagem com retratos de Klecius Caldas (Boletim da Sbacem, abril de 1950) e Armando Cavalcanti (Boletim da Sbacem, 1957)  / Ambos os impressos pertencentes à Coleção José Ramos Tinhorão / IMS 

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