“Como chorão que fui, pranteio as saudades de todos os companheiros do choro mortos ou sobreviventes, prestando-lhes uma homenagem, embora pálida, e revivendo com entusiasmo e alegria e sintetizando com devotado amor todas as suas sublimes inspirações, para que as gerações d’agora e futuras saibam que existiu essa grande falange de chorões que elevaram e enalteceram as músicas genuinamente brasileiras, músicas essas que jamais poderão desaparecer dos grandes ou pequenos arquivos dos bons colecionadores.”
Assim, o carteiro aposentado Alexandre Gonçalves Pinto, no epílogo de suas memórias, se dirigia à posteridade, como que pedindo que não se esquecessem dos velhos tempos. Tanto o tempo no qual publicava seu livro – o ano era 1936 – quanto os anteriores, desde as últimas décadas do século 19. É esse o recorte temporal em que se inscreve “O choro – reminiscências dos chorões antigos”, obra na qual o autor, também cavaquinista e violonista amador, registra suas andanças pelas rodas de choro de seu tempo. O texto, todo dividido em verbetes, faz um panorama da música, da boemia e dos costumes do Rio de Janeiro de seu tempo.
E aí pouco importa que a ordem – que ordem? – dos verbetes seja, aparentemente, aleatória. Ou que o português do carteiro, chorão e boêmio não seja dos mais afiados, como aliás o próprio reconhece: “Leitores, perdoem todos os erros, mas façam justiça a este folião, que Deus conservou para rabiscar estas linhas de recordações e saudades.” Através dos perfis de músicos – 300 no total, entre nomes importantes ou amadores – e das histórias registradas (muitas delas com impressões em primeira pessoa), ele nos guia, em seu itinerário de flâneur entusiasmado com a cena musical e boêmia de uma cidade em transformação, dos tempos pré-republicanos aos primeiros anos da Era Vargas.
Com o tempo, o “livro do Animal”, como a obra é chamada informalmente por seus cultores (em referência ao apelido – “o Animal” – de Alexandre Gonçalves Pinto), ganhou importância entre os interessados em contar/saber a história da música popular brasileira e, em especial, do choro. Depois de 1936, quando o livro foi lançado, com 10 mil exemplares, só em 1976 veio a segunda edição, publicada pela Funarte, graças ao pesquisador Ary Vasconcelos. Já em 2014 foi a vez de a Acari Records levar às livrarias a terceira edição, pelas mãos da editora Nana Vaz de Castro, com o texto devidamente revisado, comentado e ilustrado.
Só é pena que tão pouco seja sabido sobre o autor. Segundo o pesquisador, professor e bandolinista Pedro Aragão, em seu livro “O baú do Animal – Alexandre Gonçalves Pinto e o choro” (Folha Seca, 2013), feito a partir de sua tese de doutorado em musicologia pela UniRio, não se sabe além do que dizem os periódicos antigos: que em 1889 recebeu baixa como soldado, em 1891 já trabalhava como carteiro, em 1896 colaborou na captura de arruaceiros, em 1899 participou do resgate de vítimas de um incêndio na Tijuca e, em 1932, enfim aposentou-se como carteiro.
Alexandre Gonçalves Pinto (em foto reproduzida do site da Casa do Choro) entre as duas reedições de seu livro: à esquerda, a fac-similar de 1976 (Funarte); e à direita, a revisada de 2014 (Acari Records)
A data de seu nascimento, por exemplo, só foi descoberta mais recentemente, pelo pesquisador e flautista Leonardo Miranda: 12-03-1868, no Rio de Janeiro, segundo a certidão que encontrou na plataforma Family Search. Já as informações sobre a morte – estimada por algumas fontes de referência como acontecida em 1950 – seguem como uma lacuna a ser preenchida. Menos mal que, ao mergulharmos em “O choro – reminiscências dos chorões antigos”, é farto o repertório de boas histórias e, principalmente, de tipos os mais diversos.
Como Videira, cigarreiro com fama de ranzinza que, quando um músico da roda errava alguma nota, parava de tocar sua flauta e encarava o coitado: “O senhor sabe tocar?” Ou do carteiro Josino, que “tocava fora do tom, sem ritmo, enfim um inferno” e, assim, os companheiros de roda aproveitavam seus momentos de distração para entupir de comida seu oficleide, que assim emudecia pelo resto da noite. Já o policial Henrique Rosa, violonista nas horas vagas, é lembrado como tradicionalista no modo de se vestir – ia ao choro de fraque – e no palavreado em desuso que gastava nas conversas: “manafástara, tomba relomba, calafate, pinto mendigo”.
Tinha também o carteiro Salvador Marins, que não era “um grande flautista” e vivia atento ao “pirão”: se chegasse numa roda e percebesse que não tinha comida, avisava aos amigos: “Está me parecendo que aqui o gato está dormindo no fogão.” Não era o caso da residência da baiana Mariquinhas Duas Covas, que servia ótima peixada aos músicos: “sentia-se o perfume do azeite de dendê, do coentro, da pimenta”. Já a feijoada da lavadeira Maria da Piedade mereceu até receita no livro: “quatro quilos de carne seca, meio quilo de toucinho, lombo salgado, tripa, bucho e mais pertences” eram postos numa lata de querosene, que ia “para o fogo às 4 horas da manhã, pois às 11 ou 12 horas já estava em ponto de bala”.
Outro grande festeiro era o baiano Félix Roxinho, “homem dos grandes almoços, que multava os convidados que não compareciam às suas festas”. “Com sua voz de barítono respeitado”, “as modinhas cantadas por ele traziam os violões de canto chorado”, entre elas “Os anjos baianos”, primeira citada pelo Animal entre as preferidas deste “bom amigo e grande folgazão”. “Naquele tempo, a graça do baile era quando terminava com belas modinhas”, assinala o autor, que destaca o antigo gênero musical entre as reminiscências que traz no livro – segundo ele, “estavam na moda” “Perdão, Emília” e “Nas horas mortas da noite”, entre outras modinhas.
Até mesmo cantores já consagrados na década de 1930, com muitos sucessos carnavalescos na praça, são lembrados pelo autor por seu passado modinheiro. Como por exemplo Patricio Teixeira, que, devido ao recente interesse pelas emboladas, vinha “deixando no esquecimento as modinhas de inebriar aos seus ouvintes”, como lamenta nosso carteiro aposentado, que preferia o cantor entoando sucessos de seu início de carreira, como “Súplica”, bela modinha de Luiz Moreira.
O próprio Francisco Alves, conhecido desde 1933 como “o Rei da Voz” (assim rebatizado pelo radialista César Ladeira), é lembrado por ele pela atuação no teatro de revista, na década de 1910, “fazendo pontas e cantando modinhas com voz ainda pouco educada”. Pois mesmo depois de tantos sambas, marchinhas e valsas gravadas por ele, a modinha permaneceu em seu repertório, com treze exemplares lançados em sua voz — entre eles “Talento e formosura”, clássico das serestas.
O autor da letra desta música – sobre melodia de Edmundo Ferreira – é o poeta Catulo da Paixão Cearense, “o sol que ainda com os seus fulgurantes raios dá vida à modinha brasileira”, na definição parnasiana de nosso memorialista. Ele admirava Catulo (“o Ghandi da modinha brasileira e dos poemas sertanejos”) a ponto de convidá-lo para prefaciar e revisar o livro, mas o poeta, no bilhete que enviou no lugar do prefácio (“fica para outra vez”), é franco quanto à abundância de erros de português no texto: “Só uma revisão geral poderia melhorá-lo.” O autor publicou o bilhete mesmo assim, juntamente com um poema – “O passado” – que recebeu do ídolo.
No verbete dedicado a Catulo, ele não apenas se derrama em elogios, como lista os principais sucessos assinados por ele – a começar pelo famoso “Luar do sertão”, em parceria com João Pernambuco – e ainda aproveita para se queixar das novidades surgidas com a era do rádio: “Hoje só imperam as músicas estrangeiras barulhentas e irritantes ou então os sambas e marchas que têm glorificado alguns cantores modernos. Enquanto isso, Catulo tem mesmo saudades dos antigos trovadores...”
O poeta maranhense está citado também em outros verbetes do livro. Seja como avalista do violonista João Pernambuco (é “como um farol que brilha no mundo da harmonia”, floreou Catulo), autor de clássicos do choro como “Sons de carrilhão”. Seja ao lado do também violonista e pernambucano Quincas Laranjeiras, com quem, segundo o Animal, Catulo “introduziu o violão no Conservatório, hoje Instituto de Música”. Também era “um dedicado amigo” de Heitor Villa-Lobos, outro verbetado no livro, afinal “era um exímio chorão” antes de se tornar “uma glória do nosso amado Brasil”, através de obras como “Bachianas nº 5”.
Violões do choro: Catulo da Paixão Cearense (Coleção José Ramos Tinhorão / IMS), João Pernambuco (em foto reproduzida do site Farofafá) e Heitor Villa-Lobos (do site Clássico dos Clássicos)
Não à toa, chama-se “Choros” uma das séries mais famosas de composições do maestro, com 14 peças de concerto inspiradas no gênero popular carioca e seus músicos. Na de número 10, por exemplo, a citação da schottisch “Iara” evidencia sua admiração por Anacleto de Medeiros, compositor que também é objeto das divertidas hipérboles de Alexandre Gonçalves Pinto: “Os choros organizados por Anacleto faziam falar os mudos e movimentavam os paralíticos, desatinavam a mocidade e traziam a juventude nos corações dos velhos.”
Mais informativo é o trecho em que nosso carteiro-escritor conta sobre o trabalho de Anacleto na direção da Banda do Corpo de Bombeiros, “corrigindo, modelando e aperfeiçoando todos os seus comandados com a magia de uma grande vara usada por ele nos ensaios à guisa de batuta, que fazia obedecer os seus alunos”. Entre estes estava outro nome lendário do choro, Albertino Pimentel, vulgo Carramona, “exímio pistonista, admirado, protegido da Princesa Isabel” que, com a morte de Anacleto (1907), assumiu a batuta da banda – muito atuante em discos de 78 rpm dos primórdios, em gravações como a do dobrado “Garbo e civismo”, de autoria de Pimentel.
Mas em nossa história fonográfica nenhum registro é mais antigo que o de “Isto é bom”, lundu de Xisto Bahia cuja gravação, realizada pelo cantor Bahiano, é considerada a primeira feita no Brasil. Isto em 1902, oito anos após a morte de Xisto (1894), “ator brasileiro, príncipe do teatro nacional” e bom músico, como testemunhou o Animal: “Tocava bem violão, especialista nos lundus e modinhas baianas.”
O cantor da gravação pioneira é Manoel Pedro dos Santos, o Bahiano, mesma voz de outros marcos fundamentais da fonografia brasileira, como “Pelo telefone”, “primeiro samba que abriu com chave de ouro as portas das gravações”, como lemos no verbete sobre Donga, autor da composição (co-assinada pelo jornalista Mauro de Almeida) e “um dos batutas da roda de Pixinguinha”.
Este último, por sua vez, embora já fosse arranjador de destaque na gravadora Victor (desde 1929) e um dos grandes flautistas daquele tempo, acabou não sendo verbetado em “O choro — reminiscências dos chorões antigos”. Mereceu, no entanto, diversas menções ao longo do livro, numa delas como “um filho que sabe honrar a tradição de seu pai”, Alfredo Vianna, em cujo verbete Pixinguinha é citado como “maestro e talentoso flauta que repercutiu as nossas glórias musicais no estrangeiro”, em referência às temporadas dos Oito Batutas em Paris (1922) e na Argentina (1922/23).
Mais adiante nas memórias do Animal, é lembrado também como “irmão dos glorificados músicos China e Léo”, cada um deles descrito em um verbete próprio. Léo é lembrado como “conhecedor a fundo dos instrumentos que toca”, isto é, a flauta, o violão e o cavaquinho, no qual “não só acompanha como sola as músicas antigas e modernas”. Já China é recordado por sua “voz de barítono de encantar”, com a qual “cantava bons lundus, às vezes apimentados, fazendo assim a alegria e grandes risos aos convidados da festa”. É o caso de “Chalreo”, que China – também autor da composição – gravou em 1914.
O livro também registra os feitos de um dos mestres de Pixinguinha, Irineu de Almeida, “talentoso e respeitado artista” que “era um tipo gordo, de altura regular, muito bonachão”. Conhecido também como Irineu Batina (pela sobrecasaca que usava), deixou composições como o tango “Morcego”, gravado em 1911 pelo Choro Carioca. Deste conjunto participava não só o próprio Irineu (com seu oficleide), como o próprio Pixinguinha, que com eles fez suas primeiras gravações, quando tinha 14 anos.
Com esta mesma idade, Pixinguinha fez também sua primeira apresentação pública, no Teatro Rio Branco, substituindo o solista do conjunto que era atração do local, naquela noite de 1911. O ausente era Antônio Maria Passos, músico que, 25 anos depois, seria mais um eternizado por nosso carteiro memorialista, aqui bastante queixoso: “Um exímio e melodioso flauta que se passou, agora com armas e bagagens, para o saxofone, muito a contragosto de seus inúmeros admiradores, porque o saxofone é hoje em dia o instrumento da moda, figura obrigatória nos fox americanos”.
Antes de aderir ao sax, liderou o grupo O Passos no Choro, que fez muitas gravações na Odeon, como a da polca “O teu sinal”, composição de Candinho Silva, o Candinho Trombone, “exímio músico” citado com frequência entre as memórias do nosso carteiro chorão. Também tocou flauta no Grupo Chiquinha Gonzaga, com o qual gravou “Passos no choro”, polca da maestrina dedicada a ele. Chiquinha, aliás, recém falecida (1935) quando o livro foi lançado, teve nota de pesar em seu verbete, com “sentidos pêsames e imorredouras saudades à distinta família Neves Gonzaga”.
O jovem Luperce Miranda (em foto do Arquivo Marcelo Bonavides) entre os veteranos Chiquinha Gonzaga (ChiquinhaGonzaga.com) e Ernesto Nazareth (site Ernesto Nazareth 150 anos), ambos recém falecidos em 1936.
Através das páginas, o autor também saúda os músicos que admira, como o bandolinista Luperce Miranda, em plena atividade naquele 1936 – ano em que gravou “Pra quem gosta de nós”, de sua autoria, entre outros choros – e a quem manda “um efusivo abraço e os meus sinceros parabéns, por este gênio que tu és e que as gerações vindouras talvez não tragam outro”, arriscou, sem detectar o surgimento – ainda que tímido – do jovem Jacob do Bandolim, que só dali a dez anos começaria a ganhar projeção nacional, através do rádio.
Também não soube, aparentemente, da morte recente do pianista Ernesto Nazareth (1934), afinal, não há o menor traço de obituário no verbete deste “espírito superior” e “músico de primeira água”. Por outro lado, é no tempo passado que o Animal descreve o compositor de “Apanhei-te, cavaquinho”, “Odeon” e “Brejeiro”, entre outros tangos brasileiros de sucesso: “Tocou em grandes e nobres salões, onde sabia portar-se como um gentleman dotado de família. Onde tocasse fazia logo camaradagem, ficando logo íntimo, como se fosse de um conhecimento longo.”
Pois no livro Alexandre Gonçalves Pinto também faz demandas, como uma a Benedito Lacerda, a quem pede que não deixe de tocar composições de flautistas já falecidos, como “Callado, Viriato, Capitão Rangel e Luizinho”. Finda a relação de nomes, vem uma dica: “Talvez o grande flautista não execute estes choros pelas dificuldades em obtê-los. Procure na Rua Mattos Rodrigues nº 31 o grande professor Cupertino, pois tem o mesmo no seu caderno quase ou todas as músicas destes imensos chorões.” Não temos como saber se Benedito foi ao referido endereço, mas encontramos, entre suas gravações neste ano, “Juriti”, choro de outro flautista pouco lembrado, Raul Silva.
Outro que não estava na lista destinada a Benedito era Patápio Silva, “flauta de respeito, admirado por todos os flautas como ele”, como se sabe pelo livro de memórias. Atuante em diversos discos dos primórdios da fonografia no Brasil, deixou gravações importantes, como a primeira da polca “Só para moer”, de outro grande mestre do instrumento, Viriato Figueira da Silva. “Patápio quase igualava com o imenso flautista Callado”, avalia o Animal, evidenciando sua preferência pelo autor de “Flor amorosa”, que era, segundo o memorialista, como “um Deus para todos que tinham a felicidade de ouvi-lo”.
Já o flautista Juca Kalut, se não lhe parecia tão divino quanto Joaquim Callado, por outro lado foi “lembrado como lídimo expoente da música e também pelo seu fino trato, pelo bom gosto de suas composições”. Entre as quatro músicas de sua autoria gravadas em 78 rpm está “Sorrir dormindo”, valsa que evidencia a categoria deste “chefe de família exemplar e amigo dedicado” que morava em Jacarepaguá e “foi ótimo funcionário e aposentou-se no cargo de carteiro de primeira classe”.
Quem também fazia bonito no expediente era Satyro Bilhar, que, quando não estava atracado com o violão ou com as mãos no piano, era “chefe telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil, aposentando-se com quarenta anos de serviços, sem ter nunca perdido um dia”. Nas reuniões musicais, “era um encanto vê-lo solar a sua tradicional polca ‘Tira poeira’”, relembra o Animal, que também nos traz peculiaridades sobre o velho chorão: “era míope de verdade”, “além de ser um pouco gago”.
Outro curriculum vitae de respeito é o de José Luís de Moraes, “funcionário da Fazenda, cumpridor de seus deveres, estimado pelos seus superiores e amigo dos amigos do cordão da velha guarda”. Autor de pérolas como “É batucada” e “Esta nega qué me dá”, o popular Caninha, como era conhecido no samba, também participava de “reuniões das mais distintas famílias da sociedade, sempre com o seu amigo de todos os tempos, o violão”, conforme descreve nosso carteiro chorão, segundo o qual “este verdadeiro chorão” continuava na ativa – “ainda brilha!” – na época da publicação do livro.
Rivais no samba: José Luís de Moraes, o Caninha, e José Barbosa da Silva, o Sinhô, em reproduções da internet (MPB Cifrantiga e Arquivo Marcelo Bonavides)
Na década anterior (1920), foi o principal rival de José Barbosa da Silva, o Sinhô, que “era um aprimorado pianista e tocava com maestria e gosto seu violão” e, pelo sucesso de composições como “A Favela vai abaixo”, “Jura”, “Gosto que me enrosco”, “foi cognominado ‘Rei dos Sambas’, e muito merecidamente”. “Com ele muito privei”, anota o autor, não sem lamentar sua morte recente (1930), em decorrência de tuberculose, “deixando um claro no meio dos chorões, muito difícil de ser substituído”.
Com o tempo o samba se firmou, mundo afora, como o gênero musical mais emblemático do país de Ary Barroso, Carmen Miranda e, depois, João Gilberto, Tom Jobim e companhia. Já o choro, antes de ganhar adeptos – e clubes e escolas especializadas... – no Brasil e no exterior, revisitou o passado outras vezes com Jacob do Bandolim, desbravou novos caminhos musicais com Radamés Gnattali e conheceu sucesso jamais alcançado com o campeão de vendas Waldir Azevedo, só para ficar em três grandes chorões não mencionados no inventário do Animal.
Outro que cresceu muito depois de 1936 foi o rádio, meio de comunicação que já então reunia — num grande abraço, como diz a marchinha — corações de norte a sul. E mesmo depois de ter seu reinado absoluto abalado pelo surgimento da televisão (novidade de 1950 aqui no Brasil), manteve-se popular, como aliás permanece até os dias atuais, com suas possibilidades e seu alcance ampliados pela internet, na qual, por sinal, você nos lê neste momento e ainda pode, de quebra, ouvir todas as gravações relacionadas ao texto.
Uma playlist toda de lundus, maxixes, polcas, choros, sambas e (claro!) modinhas com a qual, aqui da posteridade, agradecemos a este “chorão de têmpera” que foi Alexandre Gonçalves Pinto.
Saiba mais:
>> "O choro - reminiscências dos chorões antigos", íntegra do livro de Alexandre Gonçalves Pinto, na grafia original, da 1ª edição (1936)
>> "O carteiro e a cultura popular na Belle Époque: Alexandre Gonçalves Pinto e o choro", artigo de Pedro Aragão na revista Simpom, do Programa de Pós-Graduação em Música da UniRio (2012)
>> "Os choros", minidocumentário da Funarte sobre o livro do Animal, com depoimentos de Nana Vaz de Castro, Luciana Rabello e Anna Paes (2021)
Na imagem principal: a capa da primeira edição de 'O choro - reminiscências dos chorões antigos' (1936)