“Samba de uma nota só”. Neste mês completam-se 65 anos de seu lançamento fonográfico, num 78 rpm de João Gilberto que chegou às lojas em abril de 1960. Na época, a composição de Tom Jobim e Newton Mendonça era mais uma boa novidade entre o frescor inaugural de “Chega de saudade” (1958) e o sucesso planetário da “Garota de Ipanema” (1962), ambas compostas também por Tom – mas em parceria com Vinicius de Moraes – e marcos inquestionáveis da bossa nova.
Nenhuma dessas duas, no entanto, extrapolou a música a ponto de virar uma expressão popular, dessas que vão parar na boca do povo, nas páginas de jornal e até na poesia. Como Carlos Drummond de Andrade, que, em sua coluna no Jornal do Brasil (22-09-1973), saudou a primavera com um poema de amor em que dizia, lá pelo fim, que “a chuva – plic – tamborina / seu samba de uma nota só / na área de serviço...”
Pouco depois era a vez do atacante Dé Aranha, do Vasco da Gama, dizer ao Jornal dos Sports (12-06-1976), que ele não era samba de uma nota só, mas seu “forte é aquela arrancada pela esquerda”. E o senador Jarbas Passarinho, que acusou a oposição de estar “executando um samba de uma nota só” ao criticar insistentemente o governo pelo aumento do preço de gasolina, como se viu no Jornal do Commercio (03-10-1980).
Já na Revista do Rádio (28-10-1961), samba de uma nota só era como a cantora Ademilde Fonseca chamava seu penteado da época, segundo a coluna Mexericos da Candinha. E até num texto sobre música ele apareceu sem versos ou melodia, numa matéria da revista Manchete (31-01-1987) sobre Tom Jobim: “Sua obra mais recente tem sido assim um verdadeiro samba de uma nota só, um grito de alerta contra a destruição ecológica que o Brasil vem sofrendo.”
Seja como for, a expressão de uso corrente (com significado variando entre a repetição e a monotonia) já é, por si só, uma evidência do sucesso do “Samba de uma nota só”. Afinal, ela só pegou de fato – muito além dos apartamentos e boates miúdas de Copacabana, como já vimos – pois a composição de Tom Jobim e Newton Mendonça era bem conhecida por uma parte considerável da população. Nada mal para um samba nascido sem grandes pretensões e justamente num apartamento, o de Newton, na Rua Prudente de Moraes, em Ipanema.
No livro “Chega de saudade: a história e as histórias da bossa nova”, Ruy Castro conta que um dos primeiros a ouvi-lo foi o cantor Tito Madi, numa noite de 1959, no Beco das Garrafas. Newton arrastou-o para dentro da boate MaGriffe e lhe mostrou o samba no piano-armário da casa. Segundo o biógrafo da bossa nova, Tito “ficou quase estatelado” ao ouvir a composição inacabada – ainda sem letra – feita há pouco com Tom Jobim, os dois se alternando entre as teclas do piano e as anotações que faziam em um papel.
Os parceiros Newton Mendonça (em reprodução da Revista Manchete, 17-12-1960) e Tom Jobim (Coleção José Ramos Tinhorão / IMS)
Só depois fizeram os versos: uma letra espirituosa, feita também a quatro mãos, com dois diálogos entrelaçados. Um deles interno, no campo meta-discursivo: a conversa da letra com a melodia, da “nota só” que modula para outra nota, depois volta para a anterior, etc. Pois em pleno sobe-e-desce entre notas vem o outro diálogo; na verdade uma cantada em alguém que, de tanto jogo-duro, faz o eu-lírico mudar de estratégia: fazer a cantada em “uma nota”, afinal já se utilizou “de toda a escala e no final não deu em nada ou quase nada”.
Segundo Ruy Castro, Tom e Newton ainda encontraram um jeito de, logo no primeiro verso, fazer uma pequena provocação a Ary Barroso, o grande compositor que, nos programas de calouros que comandava no rádio, não admitia que os candidatos chamassem samba de sambinha.
Eis aqui este sambinha
Feito numa nota só
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só...
E então vieram as primeiras gravações. A pioneira no lado B do 78 rpm em que João Gilberto cantava também “Doralice” (Dorival Caymmi), ambas as faixas lançadas – também em abril de 1960 – no segundo LP do cantor baiano, “O amor, o sorriso e a flor”. Já no mês seguinte foi a vez de Silvia Telles lançar “Samba de uma nota só” pela Philips – tanto em 78 rpm (com “Se é tarde me perdoa”, de Lyra e Bôscoli, no lado B), quanto em long-playing, no caso o disco “Amor em hi-fi”.
As primeiras repercussões foram as melhores possíveis. O crítico Claribalte Passos, por exemplo, citou o novo samba como uma das “joias” que comprovam as “qualidades melódicas e literárias da rapaziada da bossa nova” (Correio da Manhã, 12-06-1960).
Em seguida vieram também as primeiras regravações, ainda em 1960 – quase todas instrumentais. Como o arranjo orquestral de Radamés Gnattali e as gravações que saíram em LPs diversos: dos pianistas Fats Elpídio e Pocho (apelido do uruguaio Ruben Perez), do organista Walter Wanderley, do violonista Paulinho Nogueira, do saxofonista Sandoval Dias e do violinista Fafá Lemos. As exceções vocais desta primeira leva de regravações vieram em LPs dos Vocalistas Modernos e do Conjunto Farroupilha.
A cantora estadunidense Julie London, de passagem pelo Rio de Janeiro para se apresentar no Copacabana Palace, foi outra que aprovou. “De todas as músicas que ouvi a que mais me agradou foi ‘Samba de uma nota só’”, contou a Ary Vasconcelos (O Cruzeiro, 08-10-1960), reafirmando seu aval ao samba estilizado que surgia na cidade: “Se esse samba é de bossa nova, então sou sua apreciadora”, afirmou a diva ao Diário de Notícias (16-09-1960).
As vozes modernas do 'Samba de uma nota só', lançado também nos LPs 'O amor, o sorriso e a flor', de João Gilberto, e 'Amor em hi-fi', de Sílvia Telles (capas reproduzidas da internet)
“Samba de uma nota só” não era o primeiro hit da dupla Tom Jobim e Newton Mendonça, que até ali já assinavam juntos outros sucessos de Silvia Telles (“Foi a noite”, “Caminhos cruzados” e “Discussão”) e João Gilberto (“Desafinado”). Mas infelizmente Newton não teve muito tempo de aproveitar a boa repercussão do novo sambinha – em 22-11-1960, um infarto fulminante tirou-lhe a vida precocemente, aos 33 anos, doze dias após ter conquistado o Festival do Rio (“As mais belas canções de amor”), com “Seu amor, você”.
“Não resistiu à emoção”, sentenciou a revista Manchete (16-12-1960), na seção Posto de Escuta. “Hoje os frequentadores do Carroussel estarão sentindo falta daquele pianinho sofrido mas gostoso”, escreveu na mesma edição o repórter (letrista e grande divulgador da bossa nova) Ronaldo Bôscoli, lembrando que Newton defendia seu sustento como pianista de boate. Ou, como lhe dissera o próprio falecido, como “funcionário público da música chata, aquela que a gente tem que tocar para os outros”.
Recluso e tímido, não tinha o cartaz do parceiro famoso, já então reconhecido também como compositor de “Chega de saudade”, “Se todos fossem iguais a você” e outras parcerias com Vinicius de Moraes. Tanto que a própria imprensa cismava de atribuir a ele a autoria de versos, como a revista Radiolândia (janeiro de 1961), que estampou o erro no título de seu obituário: “Faleceu Newton Mendonça, o letrista do ‘Samba de uma nota só’”.
O equívoco já havia sido mencionado e desfeito pelo próprio Newton na mesma Radiolândia, na edição de outubro de 1960: “Muita gente pensa que faço as letras, enquanto Tom faz as músicas, mas não é esta a verdade. Música e letra vão sendo feitas ao mesmo tempo e, por assim dizer, a quatro mãos”, contou o pianista, amigo de Tom desde a infância, quando circulavam por Ipanema e Copacabana, bem antes de 1953, quando o cantor Mauricy Moura lançou o samba-canção “Incerteza”, primeira música gravada de ambos os compositores.
Pois o “Samba de uma nota só” logo entrou nas paradas de sucessos – e não só as daqui. Além de estar entre as 20 músicas mais executadas pela Rádio Jornal do Brasil em 1961, como informou o jornalista Sergio Cabral (pai) na coluna Música Naquela Base (JB, 17-10-1961), o sambinha já caía bem aos ouvidos europeus.
Na França, por exemplo, a revista La Discographie Française, principal publicação de lá especializada em discos, trouxe na edição de maio de 1961 um anúncio em que a “Chanson sur une seule note” aparecia – com destaque – entre as seis músicas brasileiras que a gravadora Barclay estava prestes a lançar na França. Já em junho de 1962, o samba, gravado em francês por Jacques Charrier, era a quinta colocada entre as dez músicas mais tocadas pelas rádios de Paris, como informou a Tribuna da Imprensa (04-06-1962), na seção Colunão.
A coqueluche reverberou também na Revista do Rádio (03-11-1962), onde o irreverente Carlos Imperial reproduziu, em sua coluna O Mundo é dos Brotos, uma carta recebida de um amigo que escrevia da França: “Meu queixo caiu quando, numa festa, vi que os discos mais executados eram ‘Desafinado’ e ‘Samba de uma nota só’, sendo que este último gravado por Caterina Valente”, anotou o missivista, antes de pedir às gravadoras brasileiras que “arranjem um jeito de enviar discos aqui para a França, pois o sucesso é cada vez maior”.
Também nos Estados Unidos o “Samba de uma nota só” já vinha fazendo sucesso, como um dos precursores da bem-sucedida trajetória internacional da bossa nova, como souberam os leitores do Diário Carioca em 26-09-1962: “O primeiro disco da bossa nova a fazer sucesso na América do Norte foi o samba de João Gilberto ‘O desafinado’, que já vendeu mais de 100 mil gravações e continua em ascensão nas paradas de sucesso, sendo seguido por 'Samba de uma nota só'.
Não à toa, ele foi o número mais tocado no famoso show do Carnegie Hall (28-11-1962), em Nova York, quando a bossa nova teve seu début oficial nos Estados Unidos: nos primeiros 25 minutos de concerto, ele já havia sido tocado três vezes, por artistas diferentes. Isso porque, já em outubro, o telecoteco de Tom Jobim e Newton Mendonça aparecia nas hit parades como “a décima-segunda colocada em Nova York, numa gravação do famoso músico norte-americano Stan Getz”, segundo o Jornal do Brasil (16-10-1962).
A gravação de Getz era uma de tantas que o “Samba de uma nota só” teve nos Estados Unidos ainda em 1962, como enumerou Rossini Pinto em O Jornal (02-12-1962), com direito às gravadoras responsáveis pelos lançamentos: “Count Basie (Roulette), Lionel Hampton (Columbia), Stan Getz & Charlie Byrd (Verve), Tito Puente (Roulette), Shorty Rogers (Reprise), Sacha Distel (Victor), Dizzy Gillespie (Phillips), João Gilberto (Capitol), Maurício Smith & The Machito All Stars (Roulette), Curtis Fuller (Epic), Lalo Schifrin (AF), Charlie Byrd (Riverside) e outros”.
Já em janeiro de 1963 foi a vez de Ella Fitzgerald cantar “One note samba” e “Off-key” (“Desafinado”) num dos mais prestigiosos nightclubs de Nova York, o Basin Street East, onde encontrava-se também o empresário carioca Flávio Ramos, que relatou ao Correio da Manhã (29-01-1963) que “ouviu os aplausos demorados que interrompiam a audição”.
O 'sambinha' pelo mundo: nas capas de discos de Sacha Distel e Frank Sinatra, no selo do 78 rpm de June Christy e numa partitura da versão em italiano, com Caterina Valente na capa (reproduções da internet)
No embalo do sucesso da bossa nova nos Estados Unidos – segundo o JB (09-01-1963), só em 1962 foram “cerca de 40 long-playings de jazz com temas brasileiros” – Tom Jobim reclamou em entrevista à revista Manchete (01-02-1964): “‘Samba de uma nota só’ e ‘Desafinado’ gravaram trilhões. Cadê o dinheiro?”, ranhetou. “O negócio do direito autoral, por este mundo afora, pra mim é um mistério total”, disse o compositor, que passaria o resto da vida disputando os direitos autorais de suas músicas – essas duas, a famosa “Garota de Ipanema” (dele com Vinicius de Moraes) e outras tantas – nos Estados Unidos.
Já no Brasil a principal aporrinhação veio pelas mãos do jornalista e compositor Antônio Maria, que no dia 24-01-1963 dedicou sua coluna n’O Jornal a apontar plágios na obra de Tom Jobim, entre eles “Samba de uma nota só”, que seria “copiado da 1ª parte de ‘Night and day’”, de Cole Porter. Já o pesquisador José Ramos Tinhorão, famoso denunciante da influência estadunidense na obra jobiniana, preferia dizer que o sambinha era copiado de “Mr. Monotony”, de Irving Berlin.
A resposta a Antônio Maria — válida também para Tinhorão — veio no próprio O Jornal (25-01-1963), que tratou de repercutir as espetadas com especialistas. José Mauro, diretor da Rádio Tamoio, disse que o cronista “não descobriu nada de novo, porque é fato corriqueiro a repetição da mesma frase melódica em composições diferentes”. Argumentou que “o que caracteriza plágio é a repetição sucessiva de oito notas idênticas em um trecho de duas melodias”.
José Mauro reconhece a semelhança entre “Samba de uma nota só” e “Night and day”, mas defende que “nem o próprio Cole Porter aprovaria que o sambinha bossa-nova fosse varrido da face da Terra, pois uma nova emoção foi criada pela melodia de Tom, e a identidade da linha melódica com a obra de Cole Porter é totalmente inconsciente”.
“Controvérsia inútil”, bradou o pianista Mário Cabral em sua coluna na Tribuna da Imprensa (11-12-1965). “Porque essa nota só é apenas uma ‘trouvaille’ (na realidade Tom usa duas notas na primeira parte com um intervalo de quarta), enquanto na segunda parte (isso é uma característica até nas peças de Tom) ele estabelece uma linha melódica contrastante com registro até demasiadamente extenso, difícil até de cantar.” Em outro texto no mesmo veículo, o colega de Tom e Newton Mendonça lembrou que “até Villa-Lobos sofreu tal acusação maldosa, com referência à melodia humilde do ‘Rasga o coração’, de Anacleto de Medeiros”.
Alheio à polêmica, o soulman Ray Charles, de passagem pelo Rio de Janeiro, foi feliz ao incluir o “Samba de uma nota só” no repertório das apresentações que fez no Teatro Municipal e no Maracanãzinho, em setembro de 1963. Foi “o número mais aplaudido”, como se leu no JB de 18-09-1963. N’O Jornal (29-09-1963), o colunista Flavio Eduardo de Macedo Soares achou a escolha da música simpática, “embora a harmonia estivesse toda errada” e o ritmo fosse “uma espécie de samba” tocado pelo baterista Wilbert Hogan.
Ray Charles não cantou o “Samba de uma nota só” nos shows cariocas – encarregou sua orquestra de interpretá-lo, na forma instrumental. Mas poderia tê-lo feito, afinal desde 1962 já havia uma letra em inglês. Ou melhor: duas letras em inglês – uma delas feita pelo jazzman estadunidense Jon Hendricks:
In Brazil they have a samba
With a simple melody
Just one single note is sounded
And repeated constantly
Well, my love is like that samba
With that simple melody
Just one single steady feeling
That's repeated constantly
A versão chegou a ser gravada em 1962 pelo próprio Hendricks – num LP ao vivo do trio vocal que formava com o compatriota Dave Lambert e a cingalesa Yolande Bavan – e em outros discos, como um 78 rpm da estadunidense June Christy. Mas, com esse Brazil tão distante, Tom Jobim tratou de fazer sua própria versão em inglês, fiel ao tema e ao sentido originais de sua parceria com Newton Mendonça.
This is just a little samba
Built upon a single note
Other notes are bound to follow
But the root is still that note
Now this new one is the consequence
Of the one we've just been through
As I'm bound to be
The unavoidable consequence of you
Foi cantando esta a letra que Tom Jobim apresentou a música no “The Andy Williams Show”, “um dos mais famosos da TV dos Estados Unidos”, como definiu o JB (17-02-1965), ao noticiar mais um marco da trajetória da bossa nova por lá. Segundo Sérgio Cabral, no Diário Carioca (26-01-1964), o “Samba de uma nota só” já era uma das músicas “assobiáveis em qualquer esquina de qualquer lugar do mundo”, juntamente com duas outras bossas novas: a também pioneira “Desafinado” e “Garota de Ipanema”, que naquele ano de 1964 começou a disputar as paradas de sucessos estadunidenses.
Versões em outras línguas não tardaram em aparecer. A letra em francês, escrita pelo argelino Eddy Marnay, saiu em discos como um 78 rpm da já citada Caterina Valente, que também se encarregou de lançar a versão em italiano, de Franco Battiato, em um LP de carreira. “Samba de uma nota só” seria ouvido também em espanhol (pelo mexicano Sergio Bustamante, pelo porto-riquenho Tito Rodríguez...), japonês (pela banda Kazmi with Rickies), grego (por Vangelis Vistakis) e até russo (pela cantora Aelita Fitingof, natural da Letônia), entre outros idiomas.
Pois enquanto a nota só de Tom Jobim e Newton Mendonça viajava o mundo, por aqui Luiz Bonfá inventou o “Samba de duas notas”, que Miltinho gravou em 1963. “Quanta originalidade dos nossos compositores”, exclamou o bem-humorado Flávio Menezes na revista Radiolândia (outubro de 1963). “Depois aparecerão vários sambas com várias notas, até completarem sete. E daí em diante?”
Já Ronaldo Bôscoli – aqui na condição de letrista e participante da turma – aproveitou o sucesso da bossa nova pelo mundo para fazer uma pequena crônica, conforme publicou o Correio da Manhã na edição de 13-07-1963, numa matéria assinada por Júlio Hungria. Uma crônica em versos, parodiando justamente o “Samba de uma nota só”.
Eis aqui este sambinha
Feito agora pra mostrar
Quem já fez sucesso aqui
Já saiu mas vai voltar
Tom começa com Vinicius
E João pra completar
Cariocas, Chico Anísio
Silvia Telles, veja lá
Baden, Trio Tamba, Elza Soares
E Carlinhos já brilharam
Como andaram
Acho que falei de quase todos
No final quebrei a cara
Faltou a Nara
E voltei ao bom Tonzinho
Mas agora é pra explicar
O bop que eu faço aqui
Ele fez pra me ensinar
Lennie, Marta, Irakitan
Peçam a Menescal um dó
Flávio Ramos e Aloysio
A Maysa fica só
Muitos dos artistas elencados na paródia de Ronaldo Bôscoli também regravaram o “Samba de uma nota só”: Baden Powell mais de uma vez, a primeira delas com o baterista Jimmy Pratt, em 1963, mesmo ano em que saíram as primeiras gravações d’Os Cariocas e Tamba Trio. Já Nara Leão gravou o samba pela primeira vez em 1971, num LP comemorativo da bossa nova, enquanto Roberto Menescal fez algumas regravações, das quais se destaca uma de 2011, com a cantora Cris Delanno e Andy Summers, guitarrista do The Police.
“Samba de uma nota só” também foi regravada por vozes importantes e diversas. Da delicadeza reverente da japonesa Lisa Ono, em 2008, aos graves encorpados de Leny Andrade em 1961, mesmo ano em que Eliana Pittman cita o samba numa gravação jazzy com seu padrasto, o saxofonista estadunidense Booker Pittman. Da alegria de Elis Regina num dueto televisivo com o francês Sacha Distel (1968) à ousadia bem-humorada de Bibi Ferreira (1991), que brinca de cobrir a melodia do samba com os versos da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
E ainda, claro, as diversas gravações de Tom Jobim. Como as duas primeiras que fez, em 1963: uma instrumental, em seu primeiro disco, e outra cantada em inglês, num registro com o flautista nova-iorquino Herbie Mann. Só depois ele gravou em português – como em 1978, no registro de um famoso show com Vinicius de Moraes, Toquinho e Miúcha, e em 1980, já com sua Banda Nova.
Tom contribui também, no piano e nos scats vocais do intermezzo, para a gravação do “Samba de uma nota só” na voz – The Voice – daquele que é considerado por muitos o maior cantor popular do século 20: Frank Sinatra. A gravação está no LP “Sinatra & Company” (Reprise, 1971), no qual o pianista brasileiro – que já havia dividido um disco inteiro com o cantor estadunidense (Reprise, 1967) – assina sete das 14 músicas do repertório.
Mais um marco do sambinha nesta trajetória que – longe de ser um samba de uma nota só – foi repleta não só de sucesso como também de boas histórias.
Na imagem principal: o selo do lado B do disco Odeon 14614 (da coleção Leon Barg / IMS), no qual saiu a primeira gravação do 'Samba de uma nota só', na voz de João Gilberto.