Colaborando com algumas gravações do cantor Gastão Formenti para o site Discografia Brasileira, fui convidado por Bia Paes Leme, coordenadora da área de Música do IMS, a escrever sobre esse grande cantor e seu admirador mais dedicado, o colecionador e pesquisador paulista Roberto Gambardella, dono da lendária Casa Lomuto.
Roberto Gambardella e a Casa Lomuto
Gambardella nasceu no bairro do Canindé, em São Paulo, e mais tarde mudou-se com a família para o bairro da Saúde. Aos 14 anos teve despertado o seu interesse pela música, após seu pai comprar um rádio usado.
Ouvia nele Nhá Zefa — de quem sempre foi fã —, Alvarenga e Ranchinho, Paraguassú, Arnaldo Meireles, Nhô Totico, entre tantos outros artistas do rádio paulista.
Foi representante comercial e viajou frequentemente ao Rio de Janeiro, onde conheceu Almirante. Através dele, teve a oportunidade de conhecer também Jararaca, Adhemar Gonzaga, Patrício Teixeira, entre outros. Lembro que me disse uma vez: “Quantas perguntas eu ainda tinha a fazer para esse homem...”
Sérgio Cabral o menciona em seu livro “No Tempo de Almirante”, ao relatar que Gambardella presenteou Almirante com seu primeiro disco gravado com o Bando de Tangarás, Odeon 10.439, que trazia as faixas “Anedotas” e “Galo Garnizé”.
Roberto adquiriu a Casa Lomuto de um argentino, José Cardillo, que já estava muito doente. Isso ocorreu entre 1977 e 1979. Cardillo batizou a loja em homenagem ao grande maestro do tango, Francisco Lomuto. Estava localizada, nessa época, no Páteo do Colégio, nº 5, 6º andar.
Foi ponto de referência para jornalistas, músicos, pesquisadores e diletantes. Além de funcionar como uma loja de discos, servia como espaço de encontro e socialização. Gambardella não só comercializava discos, também catalogava cuidadosamente todos os 78 rpms que passavam por ele, utilizando apenas uma pequena máquina de escrever. Com sua memória formidável e seus catálogos, colaborou com vários pesquisadores que o procuravam.
Assim que comecei a frequentar a Casa Lomuto, percebi que ela era totalmente diferente das outras lojas. Ali, o assunto era exclusivamente a música da velha-guarda. Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas e Gastão Formenti eram os cantores mais procurados e comentados.
Nos anos 1980, a loja vivia seu auge. Eu fui ganhando a confiança do Roberto aos poucos, comprando também pedidos que outros clientes deixavam de retirar. Ele se orgulhava de nunca ter vendido um disco quebrado; nisso sempre foi intransigente, como bem lembrou o Gilberto Inácio na sua entrevista para este site.
Entre os pesquisadores que frequentavam a loja ou mantinham contato com Gambardella estavam Fernando Faro, Jairo Severiano, Nirez, Abel Cardoso Jr., José Ramos Tinhorão, Leon Barg e João Luiz Ferrete. Dos artistas, lembro que apareceram por lá Salomé Parisio, Rubinho (do Quinteto Onze e Meia), Roberto Martins, Antenógenes Silva, Gilberto Alves, Murilo Caldas, Rubens Garcia, Denise Duran, Miécio Café e Hugo Giovanelli.
Grandes colecionadores frequentavam a Casa, como Paulo Iabutti, seu Nenê, Francisco Martins, Antonio Peti, Alberto Guimarães, Pádua Reis, José Pereira. Me lembro de algumas preferências entre eles. O Iabutti gostava mais de Orlando Silva; Nenê, de Chico Alves; Guimarães, preferia Carlos Gardel. Entre todos havia sempre um segundo cantor em comum: Gastão Formenti.
O orgulho de Roberto era sua coleção dos discos de Gastão Formenti — provavelmente a única no país. Ao todo, Formenti registrou 307 fonogramas em discos de 78 rpm, que hoje podem ser ouvidos no site Discografia Brasileira.
A música de Formenti que ele mais gostava era “Vingança”, que fala de um caboclo traído que busca vingança, e é contido pelos encantos da cabocla.
Numa festa fui cantar
E a mulata tava lá
Juro por Nossa Senhora
Juro por Nossa Senhora
Que a cabocla eu quis matar
Mas fiquei sem respirar
Quando vi ela dançar
Ela tava tão bonita
Ela tava tão bonita
Que esqueci de me vingar
Um mural da Casa Lomuto: no centro, Roberto de Azevedo (de azul) entre Roberto Gambardella e Leon Barg (de bigode); à esquerda, Abel Cardoso Jr.; à direita, duas fotos de Gambardella: no alto com um 78 rpm e a outra na companhia de Vanderlei Monteiro / Fotos do acervo de Claudevan Melo
Algumas curiosidades sobre os frequentadores da loja
Paulo Iabutti criou o selo Evocação em 1989, na mesma época em que Leon Barg começava o selo Revivendo. Em sua casa, organizava gincanas de perguntas sobre música, relembrando os programas do Almirante na rádio de São Paulo, dos quais participou.
Vanderlei Monteiro era farmacêutico e possuía uma coleção invejável de velha-guarda em uma sala na sua casa no bairro da Pompéia. Em uma visita, comentei a dificuldade de encontrar um disco do Juó Bananere, de 1931. No seu "Cantinho da Saudade", como ele mesmo chamava, havia três exemplares do disco.
Freguês assíduo era o Brilhante, cearense, primo do infame Brilhante Ustra. Nunca o ouvi falar de outra coisa que não fosse música. Era amigo do cantor Roberto Paiva e fã de carteirinha da dupla de compositores Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti. Gambardella o provocava, dizendo que ele era o único fã da dupla.
João Luiz Ferrete foi um grande pesquisador. Trabalhou na série “Nova História da Música Popular Brasileira”, da Abril. Escreveu várias contracapas de discos nos anos 60 e a biografia do Capitão Furtado. Francisco Alves ligou uma vez para ele, dizendo: "Não me lembro seu nome, garoto. Uma mistura de Fernec com porrete..."
Ferrete apareceu uma vez com alguns acetatos contendo as famosas paródias sacanas e apócrifas, gravadas em estúdio pelo grupo Titulares do Ritmo. Na etiqueta do disco uma recomendação: "Cuidado com as crianças!"
A mais conhecida era o "Espalha merda", hoje já bem esquecida:
Chamaram o meu boi de espalha-merda
a turma lá de casa bronqueou...
Nos anos 90, nosso amigo Roberto Pereira — amigo da Emilinha Borba e cliente da Casa Lomuto — ficou revoltado com Fernando Faro. Ao acompanhar Emilinha aos estúdios da Cultura para o programa Ensaio, achou deselegante o câmera fazer closes tão próximos da cantora, “Afinal, ela já tem 70 anos”, lembrou ele.
Paulo Ramires Santana, advogado com escritório próximo à Casa Lomuto, foi amigo pessoal de Nelson Gonçalves e Joel de Almeida. Entrevistava artistas da velha-guarda para o programa “Cantores do Rádio”, de Fausto Canova. Em 1995, fomos a Mococa entrevistar o clarinetista Nabor Pires Camargo.
Outras visitas à Casa Lomuto:
Antenógenes Silva realizou uma visita e apresentou-se no Páteo do Colégio em 31 de outubro de 1989, um dia após completar 83 anos. Durante a apresentação, tocou músicas inéditas e também a famosa “Saudades de Matão”, da qual ele morreu jurando ser o autor, e não o Jorge Galatti.
Também houve uma visita especial, mas dessa vez a Casa Lomuto foi até Poá. Gambardella, Gouveia, Aldoni, Vanderlei Monteiro e outros foram visitar a grande Dina Teresa, cantora e atriz portuguesa. Dina arrebatou corações em todo mundo no filme “A severa” (1930), de Leitão de Barros, cantando “Rua do Capelão”:
Oh! Rua do Capelão
juncada de rosmaninho!
Se o meu amor vier cedinho
eu beijo as pedras do chão,
que ele pisar no caminho!
No final da visita, Dina pediu a todos: “Agora, vão todos embora, que estou muito cansada!”
Se, na década de 1990, os colecionadores completavam suas coleções com fitas da Lomuto e inúmeros LPs da Revivendo, nos anos 2000 eles passaram a querer digitalizar seus 78 rpms.
A atriz portuguesa Dina Teresa em dois momentos: em 1933, durante as filmagens de 'A severa' (reprodução do site mulheresIlustres.blogspot.com), e em 1972, durante uma entrevista (reprodução do site da RTP)
Comecei, então, a digitalizar os discos de 78 rpm para a Casa Lomuto. Posteriormente, alguns amigos me solicitaram a digitalização de suas coleções. Durante um tempo, fiquei sem contato com Gambardella, que acreditava que eu estava atrapalhando seu trabalho.
Por meio do Gouveia, restabelecemos a relação, e eu forneci vários CDs dos cantores que ele gostava, que ele agora só conseguia ouvir em fitas, pois havia vendido quase todo o seu acervo. Ficou apenas (até aquele momento) com a coleção do Gastão Formenti.
Na última visita que fiz a ele, com a loja já fechada, recebi um presente muito especial: as fotos pessoais e recortes de jornal do acervo de Arnaldo Pescuma, reunidos em três livros feitos artesanalmente pelo irmão do Arnaldo, que ele guardava com muito carinho. Ao me despedir, ele disse: "Sei que estarão em boas mãos."
Entre as recordações deixadas por Roberto Gambardella, algumas fotos raras do cantor Arnaldo Pescuma: acompanhado pelo violonista Larosa Sobrinho (à esquerda), numa entrevista a um repórter argentino durante uma temporada em Buenos Aires (embaixo) e no Morro da Mangueira, com Heitor dos Prazeres, Armando Marçal e Alcebíades Barcelos, o Bide, em 1940.
Sobre Gastão Formenti
Gastão Formenti era filho do italiano Cesare Alexandre, que chegou ao Brasil em 1890 — aos 17 anos —, depois de vencer um concurso de pintura na Itália. Por aqui acabou ficando, casando-se com dona Adelina. Gastão Formenti nasceu na noite de São João de 1894, na cidade de Guaratinguetá. A família se estabeleceu depois em São Paulo, onde Cesare se destacou como um grande pintor e vitralista.
Segundo Gastão, seu pai tinha uma linda voz de tenorino e era primo da famosa contralto italiana Guerrina Fabri. Cesare Alexandre também era folião dos bons, defendendo as cores do Democráticos Carnavalescos, sendo também o encarregado das alegorias do bloco.
Gastão fez o estudo básico na Escola Italiana e o secundário no Colégio São Bento. Em 1908, o pai foi convidado a decorar o pavilhão da Bahia na grande Exposição da Praia Vermelha, na Urca. Se encantou com o Rio de Janeiro e decidiu mudar-se com a família em 1910, fixando residência em Copacabana.
Comentou em uma entrevista que precisava dormir cedo para acordar às 3h e abrir a fábrica de vidros do pai, na rua do Costa nº 20 (atual rua Alexandre Mackenzie). Em 1920 casou-se com Otília de Oliveira.
Em 1927 realizou sua primeira participação na Rádio Sociedade, convidado pelo oficial de marinha Sebastião Souza, cujo nome artístico era Gastão Penalva.
Lá, encontrou o violonista Rogério Guimarães. Rogério e Gastão já se apresentavam em saraus na casa de Fernando de Almeida Chaves, em Copacabana, e a partir daí, o violonista o acompanhou em várias gravações em disco.
O sucesso na Rádio Sociedade logo resultou nas primeiras gravações pela Odeon: “Anoitecer”, “Cabocla apaixonada”, “Canarinho” e “Rolinha”.
O auge de sua carreira ocorreu entre 1930 e 1932, período em que ele era considerado um dos “tais”, como costumava dizer. Foi cantor popular por 15 anos (1927–1942), realizando cerca de trezentas gravações. Foi o intérprete das lendas amazônicas de Valdemar Henrique, das modinhas, toadas sertanejas e valsas brasileiras.
Em 1930 tornou-se, ao lado de Carmen Miranda, o primeiro cantor a assinar contrato com uma rádio: a Mayrink Veiga.
Em 1942 encerrou sua carreira musical sem fazer alarde, para dedicar-se à pintura e à empresa de vitrais de seu pai. Após a morte de Cesare Alexandre, em 1944, aos 71 anos, Gastão concluiu os vitrais da Igreja dos Capuchinos, na Tijuca, e encerrou sua atividade como vitralista, dedicando-se exclusivamente à pintura.
As obras de Gastão e Cesare Alexandre integram o roteiro turístico e cultural do Rio de Janeiro. Destacam-se os vitrais da Igreja dos Capuchinos e da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, além dos mosaicos do Palácio Tiradentes e do Jóquei Clube.
Em entrevista, afirmou que, assim como Pelé, preferiu parar no auge. Porém, voltou a gravar um 78 rpm em 1952, tal como fez o Rei. Em 1956, assinou contrato com a Sinter e regravou “De papo pro á” e “Maringá” para o LP “Festival da Velha Guarda”, sob direção musical de Pixinguinha.
Em 1959, gravou seu último trabalho como cantor: o LP “Quadros musicais”, que inicialmente se chamaria “De papo pro á”, com 12 de suas canções mais populares, pela gravadora RCA Victor.
O cantor Gastão Formenti (em fotografia do Arquivo Nirez) e o rótulo do 78 rpm de 'De papo pro á' (em reprodução do acervo de Gilberto Inácio Gon)
Espero que a discografia de Gastão Formenti agrade aos que ainda não o conhecem. Foi um cantor único, importantíssimo em uma da época de ouro da nossa música. Fiquei muito feliz em colaborar, lembrando o mestre Antonio Machado:
En cuestiones de cultura y de saber,
sólo se pierde lo que se guarda;
sólo se gana lo que se da.
Gastão Formenti: uma seleção musical comentada
Tanger do coração — Esta valsa foi importante para a Casa Lomuto. Um dos LPs da Evocação, o selo criado pelo Paulo Iabutti, tinha este título, “Tanger do coração”, com músicas cantadas por Gastão Formenti, Vicente Celestino, Gilda de Abreu, Castro Barbosa, Nelson Gonçalves, Silvio Vieira e Jonas Tinoco. Neste ano de 2025, nosso querido amigo Paulo Iabutti completaria 100 anos.
Na Serra da Mantiqueira — Depois de várias canções exaltando a Revolução de 30, interpretadas por Silvio Vieira, Jorge Fernandes, Almirante e pelo próprio Gastão (“24 de Outubro” e “Os 18 do Forte”), surge uma canção pacifista composta por Ari Kerner Veiga de Castro, lembrando a todos da estupidez da guerra. Morrem mais brasileiros durante a Revolução Constitucionalista do que na Segunda Guerra Mundial. E ninguém melhor do que Gastão Formenti para interpretá-la — um filho legítimo da Serra da Mantiqueira. A revista O Malho, sempre implacável com Ari Kerner, afirmou em agosto de 1934 que ele se redimiu de metade de seus pecados ao compor essa música. Há dez anos, escrevi um pequeno texto sobre essa canção no site do meu amigo Franklin Martins.
Sussuarana — Grande sucesso da dupla Hekel Tavares e Luiz Peixoto, “Sussuarana” foi também gravada, na época, por Stefana de Macedo. A canção fez tanto sucesso que chegou a ganhar uma curiosa paródia de Eratóstenes Frazão, lançada pela Parlophon sob o título “O sem trabalho”, interpretada por Antonio Nássara (que, nesse caso, assinava como Luiz Antonio).
Casa de caboclo — A música gerou muita polêmica na época, por conta de questões de direito autoral: Hekel Tavares teria se inspirado em motivos de Chiquinha Gonzaga. Em um concerto realizado em 1974, o cantor Paulo Fortes comentou que Hekel e Luiz Peixoto estavam precisando de dinheiro na ocasião. Num sábado, em um bar na Avenida Rio Branco, em frente à Casa Arthur Napoleão, Peixoto escreveu os versos; e, no piano da própria Casa Arthur Napoleão, Hekel compôs a melodia. A canção foi então vendida ao editor por 5.000 réis. A história inspirou um programa na TV Tupi, com o próprio Paulo Fortes: Histórias que eu canto.
Vingança — Essa era a música interpretada por Gastão Formenti de que Roberto Gambardella mais gostava, como bem lembrou nosso amigo Gilberto Ignácio Gonçalves. A história da canção parecia se encaminhar para mais uma tragédia sertaneja, mas a beleza da cabocla falou mais alto que o desejo de vingança.
Ramona — Cantada originalmente por Gene Austin e composta por Mabel Wayne, com letra de L. Wolfe Gilbert, para o filme “Ramona”. A primeira gravação no Brasil ocorreu em setembro de 1928, por Francisco Pezzi, em uma versão em espanhol. Em novembro do mesmo ano, Gastão Formenti fez essa gravação, agora com versão em português assinada por Olegário Mariano. Um detalhe curioso: “Ramona” era considerada uma música de mau agouro, como se pode perceber na gravação “Vasco x Corinthians”, de Batista Júnior, lançada em 1929. Outra canção que ganhou fama semelhante foi “Alza Manolita (As cartas não mentem jamais)”, do francês Léo Danniderf.
Adeus, Eulina — A canção que emocionou Catulo da Paixão Cearense, levando-o às lágrimas ao ouvi-la na voz de Gastão Formenti.
Folhas ao vento — Gastão Formenti gravou essa antológica valsa de Milton Amaral em novembro de 1933. Pouco dias depois, submeteu-se a uma operação na garganta, voltando a gravar apenas no final de março de 1934, no disco Victor 33.781, com as faixas “O boiadeiro” e “O galo”. Já com a carreira encerrada, Gastão foi insistentemente convidado por Cyro Monteiro a se apresentar em seu programa. “Minha mãe chora quando ouve sua gravação de ‘Folhas ao vento’”, disse Cyro.
Boi-bumbá — A toada folclórica de Valdemar Henrique foi um grande sucesso na voz de Gastão Formenti. Outras grandes vozes também a gravaram, como Jorge Fernandes, José Tobias, Alice Ribeiro, Inezita Barroso e Vanja Orico. A música também foi usada no filme inglês “The End of the River” (1947), dirigido por Derek Twist. Gravado em Belém do Pará, o filme contou com Bibi Ferreira e o ator indiano Sabu Dastagir no elenco.
Maringá — A música que Gastão Formenti mais gostava em todo o seu repertório. Foi o grande sucesso dele e do autor Joubert de Carvalho, também fez muito sucesso na voz de Silvio Caldas.
De papo pro á — Um grande sucesso dado a Gastão pela dupla Joubert de Carvalho e Olegário Mariano. Além de um acompanhamento pra lá de interessante, com pistão, clarinete, dois violões, rabecão e bateria, Gastão conta com o acompanhamento vocal de Castro Barbosa.
Foi boto, sinhá – Mais uma lenda amazônica, um grande sucesso de Valdemar Henrique com letra de Antônio Tavernard. A primeira vez que a ouvi foi na voz da cantora Maria Lucia Godoy, falecida recentemente. Osvaldo Orico, da revista Careta, descreve o personagem-lenda como um verdadeiro “Dom Juan lacustre”.
O índio do Corcovado - Em janeiro de 1932, a revista Para Todos, para alavancar suas vendas, lançou a história incrível do Índio do Corcovado, descoberta pelo pintor Correia Dias. Tratava-se da silhueta de um índio, dez vezes maior que o Cristo Redentor, esculpida em uma escarpa do Corcovado, como descreveu Ana Luisa Martins (filha do jornalista e compositor Luiz Martins) para o blog do IMS. Luiz Martins tirou da história uma letra e a levou a Joubert de Carvalho. A história acabou esquecida, mas a música foi bem divulgada por ser o lado A do clássico “Maringá”. Estava programada para ser gravada por Jerusa Basto; no final, foi Gastão Formenti quem a gravou, em um ritmo de rumba, embora tenha sido classificada como toada.
>> A equipe da Discografia Brasileira agradece a Roberto de Azevedo não só pelas memórias compartilhadas neste texto, como também por outras colaborações fundamentais para este site, entre elas as dezenas de discos de sua coleção — a Coleção Roberto de Azevedo — que podem ser ouvidos por aqui graças a sua generosidade.
>> Na foto principal desta postagem: Roberto de Azevedo e retratos emoldurados de Roberto Gambardella (no alto) e Gastão Formenti, além de um folheto promocional de "Flor do agreste" (à esquerda) / Foto: Roberto de Azevedo