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    ‘Taí’ o Carnaval chegando de novo... e, com ele, uma marchinha que há 95 anos não sai da boca do povo!

    Fernando Krieger

    tocar fonogramas

    O sábado de Carnaval neste 2025 cairá num dia 1º de março, exatamente como foi em 1930. E, assim como aconteceu há exatos 95 anos – e vem ocorrendo desde então –, uma certa marchinha lançada naquele fevereiro estará novamente na voz de centenas de milhares de foliões e folionas:

    Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
    Oh, meu bem, não faz assim comigo não
    Você tem
    Você tem que me dar seu coração

    “‘Taí’, como o povo chamou ‘Pra você gostar de mim’, alastrou-se pelos blocos de rua e pelos bailes, e chegou ao sábado de Carnaval, no dia 1º de março, cantada por milhares de bocas. Por que a surpresa?”, pergunta Ruy Castro no livro “Carmen: uma biografia” (Companhia das Letras, 2005). Ele mesmo responde: “Não havia, até então, o Carnaval das marchinhas. As poucas que o povo cantara desde a invenção do gênero, por volta de 1920, nunca tinham suplantado os sambas, que dominavam o Carnaval”. De fato, aquele seria o ano do revolucionário “Na Pavuna”, que celebramos neste post . Mas foi também o de três marchas – “coisa praticamente inédita na história do Carnaval”, ressalta Castro – que começariam a equilibrar esse jogo: “Dá nela”, de Ary Barroso, lançada em disco por Francisco Alves, e duas – “Iaiá, ioiô” (de Josué de Barros) e “Pra você gostar de mim” – que ganharam a voz de uma cantora ainda praticamente desconhecida.

    Até aquele momento, a jovem (de 20 anos) Carmen Miranda, em sua curtíssima carreira, gravara três discos de 78 rotações: um pelo selo Brunswick, em fins de 1929, e dois pela Victor, o primeiro em dezembro de 1929 e outro em janeiro de 1930. Seis fonogramas, entre os quais apenas uma marcha, a citada “Iaiá, ioiô”. O médico-compositor Joubert de Carvalho, 29 anos, tinha muito mais tempo de estrada: estreara na indústria fonográfica em 1922, com o foxtrote “Príncipe”, e até janeiro de 1930 contava quase 50 músicas em discos, a maioria absoluta formada por canções, tangos e tangos-canção, além de alguns poucos maxixes, valsas, foxtrotes e sambas, três marchas, um one-step, uma toada e uma embolada. Seu repertório o credenciava como um autor respeitado por público e crítica – mas sem um “estouro”. Que viria na esteira de um encontro fortuito, como o próprio Joubert contaria futuramente em algumas ocasiões.

    Num depoimento transcrito pela Revista da Música Popular nº 8 (edição especial publicada após o falecimento de Carmen, em 05/08/1955), o autor mineiro (nascido em Uberaba) recordou que certa ocasião – “nos primeiros dias de janeiro de 1930”, calcula Ruy Castro – passava pela Rua Gonçalves Dias, no Centro do Rio de Janeiro, quando o gerente da Casa Melodia – “loja de discos e partituras ao lado da Confeitaria Colombo”, explica Castro – chamou-o para escutar um disco recém-lançado, o de estreia da novata Carmen Miranda na gravadora Victor, tendo em um dos lados a canção-toada “Triste jandaia”, de Josué de Barros. “Confesso que, ao ouvir o disco pela primeira vez, senti uma emoção estranha: era como se eu, além de ouvir a intérprete, a estivesse vendo também, tal era a personalidade marcante que jorrava da gravação”, disse Joubert.

    Tocaram várias vezes o disco. Entusiasmado, o compositor pediu ao gerente que o apresentasse à moça. Eis que, segundo lembraria Joubert à Revista da Música Popular, seu interlocutor exclamou: “Olhe só quem vem aí... A Carmen em carne e osso...”. Em outras ocasiões, como na entrevista publicada em O Cruzeiro de 06/02/1965 e no seu depoimento para o programa “MPB especial”, da TV Cultura (15/02/1974), Joubert mudaria a frase, afirmando que o outro teria dito: “Taí ela chegando!”. No programa da TV Cultura, ainda ressaltaria: “Aquele ‘taí’ ficou na minha cabeça (...)”.

    Segundo Joubert contou em suas recordações publicadas na Revista da Música Popular, ficou encantado pela “graça e alegria irradiante” da jovem, revelando sua disposição de compor para ela. Carmen passou seu endereço – morava então na Travessa do Comércio nº 13. “Ao regressar à minha casa já estava com a melodia na cabeça e no dia seguinte batia à porta dos Miranda em busca de Carmen”. Foi atendido por uma moça que ele a princípio não reconheceu e que o recebeu dizendo: “Sou eu mesma... Você não está me conhecendo porque estou sem a ‘máscara’ de ontem...” – na véspera, Carmen aparecera na loja maquiadíssima, de salto alto, super produzida.

    Não havia piano no modesto sobrado onde moravam os Miranda. Joubert não teve opção senão cantar a música (“em seu estilo seresteiro”, de acordo com Ruy Castro), que Carmen aprendeu rápido. Castro conta que, “quando Joubert tentou orientar sua interpretação, ela disse, com um brilho no olhar: ‘Não precisa me ensinar, não, que, na hora da bossa, eu entro com a boçalidade’. E, captando um certo choque no rosto do educado Joubert, logo se corrigiu: ‘Desculpe, mas eu sou assim mesmo, meio desabrida!’”.

    “(...) em cerca de vinte dias, Carmen criou sua interpretação da marchinha, submeteu-a a Rogério Guimarães” – violonista, responsável pelo elenco e pelo repertório da gravadora Victor –, “este a aprovou, ela foi orquestrada por Pixinguinha, ensaiada por Carmen com a orquestra e finalmente gravada” (no dia 27 de janeiro), diz Ruy Castro. “Pra você gostar de mim” foi lançada em fevereiro no lado B do disco Victor 33263, que tinha, na outra face, o samba-canção “Mamãe não quer”, de Américo de Carvalho, cujo registro havia sido feito por Carmen em 22 de janeiro.

    Na época, a futura Pequena Notável ainda não criara seu estilo próprio de cantar: segundo Jairo Severiano no livro “Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade” (Editora 34, 2008), Carmen mostrava “nos dois primeiros anos de carreira influência de Aracy Cortes, o que a levava a forçar a voz, abusando dos timbres agudos (...)”. Foi assim que levou ao estúdio a marcha de Joubert de Carvalho – cuja primeira segunda parte é atualmente lembrada por bem poucos:

    Meu amor não posso esquecer
    Se dá alegria, faz também sofrer
    A minha vida foi sempre assim
    Só chorando as mágoas que não têm fim

    Já a outra segunda parte, a mais conhecida das duas, é popular até hoje:

    Essa história de gostar de alguém
    Já é mania que as pessoas têm
    Se me ajudasse nosso Senhor
    Eu não pensaria mais no amor

    “Por ter saído pelo menos uma semana antes, ‘Iaiá ioiô’ superou ‘Taí’ em popularidade no Carnaval de 1930. Mas a marchinha de Josué de Barros morreu de morte natural na Quarta-Feira de Cinzas, ao passo que a de Joubert de Carvalho continuou a ser executada o ano inteiro e chegou com toda a força ao Carnaval de 1931 – primeira e única vez que isso aconteceu na história do Carnaval”, afirma Castro, revelando que, pela estimativa da Victor, foram vendidos espantosos 35 mil exemplares do disco de Carmen somente no primeiro ano, “sabendo-se que, até então, mil discos representavam uma vendagem muito boa até para cartazes como Chico Alves ou Mário Reis. (...) Foi ‘Taí’, no lado B, que vendeu as 35 mil cópias e rendeu a Carmen a fortuna de quatorze contos de réis – cerca de quinhentos dólares de 1930”.

    Folheto de modinhas da Casa Vieira Machado para o Carnaval de 1930 com a letra de “Pra você gostar de mim” (Coleção José Ramos Tinhorão/IMS) e a Pequena Notável em foto reproduzida do livro ‘Carmen Miranda’, de Cássio Emmanuel Barsante (Editora Europa, 1985)

    O êxito da composição certamente deixou seu autor bastante satisfeito – mas não foi assim de início. Segundo Castro, Joubert escreveu “Pra você gostar de mim” como uma marcha-canção – gênero que consta inclusive do rótulo do disco –, a ser cantada com “um travo de melancolia (...). Foi Carmen quem transformou ‘Taí’ numa marcha de Carnaval, e o arranjo de Pixinguinha, com a cumplicidade de Rogério Guimarães, completou a mágica”. No próprio catálogo de registro de obras da Victor, encontra-se datilografada a informação “marcha carnavalesca”. Joubert só escutou a bolachinha depois de pronta. Como conta Castro, “sua reação é conhecida: gostou de Carmen, mas detestou o acompanhamento”.

    “(...) quando de sua gravação, me aborreci com a orquestração, ficando mesmo indignado, e quis armar um bruto barulho. O que salvou foi a perfeita interpretação da Carmen. O acompanhamento parecia bandinha de circo...”, esbravejaria Joubert nas páginas da Revista da Música Popular. “Mas teve bom senso e ficou só na ameaça”, diz Ruy Castro. No entanto, até para Carmen iria sobrar uma surpreendente crítica: o fascículo “História da Música Popular Brasileira” que a Abril Cultural dedicou a Joubert em 1971 traz uma declaração sua um tanto contraditória, pois desmente a própria opinião do compositor sobre a cantora, dada tantas vezes antes: “Ela tinha muita presença, muita personalidade, apesar de desafinar”.

    “(...) nem só de alegria e despojamento vivia a canção carnavalesca. Algumas de nossas maiores marchas e sambas exaltavam... a dor-de-cotovelo(!). (...) A começar pelo primeiro sucesso de Carmen Miranda, ‘Ta-hi’, de Joubert de Carvalho, uma pérola (triste) do Carnaval de 1930 que resistiu ao tempo, sendo cantada até hoje...”, observa Rodrigo Faour em “História sexual da MPB: a evolução do amor e do sexo na canção brasileira” (Record, 2006), respeitando a grafia com que a marcha era escrita na época.

    Ruy Castro calcula que, por ter a matriz sido enviada a São Paulo para a prensagem das cópias, “dificilmente os discos chegaram às lojas cariocas antes de 10 de fevereiro”. Mas a marcha já estava chegando aos jornais: no dia 9 – exatamente no aniversário de 21 anos de Carmen –, o Diário Nacional publicava um anúncio dos “Discos Victor brasileiros para o Carnaval de 1930”; o último da lista era justamente o que continha a “marcha carnavalesca” – como saiu impresso – de Joubert. No dia 18, já tocava na Rádio Clube de Santos, segundo o jornal Praça de Santos daquela data. Cinco dias depois, O Paiz fazia uma crítica bastante positiva da bolacha, ressaltando “a arte brejeira e a voz sedutora da linda Carmen Miranda, um dos maiores sucessos da fonografia nacional”.

    No dia 28, veio a da Phono-Arte: “Disco nº 33.263, cujo verdadeiro interesse reside na bem brasileira marcha carnavalesca de Joubert de Carvalho, ‘P’ra você gostar de mim’, sem favor uma das melhores marchas deste ano. (...) A marcha de Joubert que se encontra neste disco será o motivo mais que suficiente para sua aquisição” – o periodista parecia antever as 35 mil cópias vendidas, todas graças ao lado B do 78 rpm. A Phono-Arte trazia a letra da música, que também constava do folheto de modinhas editado pela Casa Vieira Machado para a folia de 1930, com a indicação “marcha de rancho”.

    Os versos de Joubert continuaram, nos meses subsequentes, a sair em diversos veículos da imprensa, como O Paiz de 19-20 de abril e O Malho do dia 3 de maio, que afirmava na mesma edição, quase no meio do ano: “Ainda uma reminiscência do Carnaval passado, a marcha de Joubert de Carvalho intitulada ‘Eu fiz tudo pra você gostar de mim’ [sic] agora que está alcançando um sucesso mais intenso”. O disco de Carmen continuava então sendo anunciado – junto a fotografias da mais nova estrela da música popular – nas páginas de periódicos como Phono-Arte (30 de maio) e O Cruzeiro (7 de junho).

    Aos poucos, o novo nome da marcha vitoriosa, rebatizada pelo povo, iria ganhando espaço também na imprensa. Tanto o Diário da Noite de 29 de julho quanto A Batalha e o Jornal do Commercio (ambos no dia seguinte) apresentavam Joubert de Carvalho como o autor de “Tahi, eu fiz tudo p’ra você gostar de mim”. Que faria sua estreia na literatura ainda neste ano: parte da sua letra seria utilizada por Sylvio Figueiredo em seu conto “O tiro de Gervásio Telles”, escrito para – e publicado em – O Cruzeiro (20/09/1930).

    “Joubert de Carvalho (...) Sempre primou em canções em valsas. O ano passado, no entanto, logo depois do Carnaval, a sua marcha ‘P’ra você gostar de mim’ (Victor), que o povo apelidou de ‘T’ahi’, apesar de ter chegado um pouco tarde, registrou um sucesso fora do comum, tendo sido também uma das peças que maior popularidade deu a Carmen Miranda”, recordaria o crítico da Phono-Arte (28/02/1931) um ano após o estouro da marcha, apontando para a mudança definitiva do nome.

    Capas de partituras editadas pela Casa Vieira Machado: a primeira traz o nome original da marcha, “Pra você gostar de mim” (Coleção José Ramos Tinhorão/IMS); a segunda mostra “Ta-hi!...” impresso em destaque, acima do título oficial (Arquivo Nirez)

    Mudança que, ao que parece, foi seguida pela própria Casa Vieira Machado, editora da partitura: na Coleção José Ramos Tinhorão do IMS, há um exemplar com o nome da música impresso em sua versão original, “P’ra você gostar de mim...”. Já no acervo do pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, encontra-se uma edição quase igual – mesma foto de capa (de Carmen), mesmas cores, mesma diagramação, mesmos dizeres –, com pequenos detalhes diferentes e um que chama mais atenção: acima do nome original está escrito aquele com o qual a marchinha ficaria consagrada, “Ta-hi!...”.

    Também nas gravações posteriores à de Carmen, a mudança se fez notar. No rótulo do disco de Lolita França (1939), já vemos escrito “T’ahi” entre parênteses após o título original. Em 1950, no de Ernani Filho – que não canta a primeira segunda parte, entoando duas vezes a mais conhecida –, a marcha chegou finalmente ao lado A de um 78 rpm, agora com o nome definitivamente modificado e abreviado: “Tà-hi”. Na versão instrumental do acordeonista Mario Gennari Filho, em 1951, a marcha, também intitulada apenas “Ta-hi”, se transformou num baião. Nesse mesmo ritmo, o cavaquinista Cardosinho (Antônio Cardoso) encaixou “Tahi” num pot-pourri instrumental em 1952.

    De novo como baião, e mais uma vez instrumental, “Ta-hi” foi levada ao acetato por Roberto Inglez e Sua Orquestra do Savoy Hotel de Londres em 1953. Três anos depois, Enrico Simonetti e seu conjunto a executaram na forma de maxixe. Finalmente, ainda em 1956, mais dois registros, ambos instrumentais: no selo do disco da Banda Polydor, abaixo do título principal (“Ta-hi”), aparece como subtítulo o nome original da marcha, “Pra você gostar de mim”; e, no rótulo do 78 rotações do sanfoneiro Carlinhos Mafasoli – que a interpreta como um tango –, o nome da marchinha é simplesmente “Taí” – já com a grafia atual.

    Mosaico com rótulos de gravações de “Pra você gostar de mim (Taí)” em 78 rotações: as seis primeiras pertencem ao Arquivo Nirez; as três últimas, à Coleção Leon Barg/IMS

    Na época dos long-playings (de 10 e 12 polegadas), o megasucesso de Carmen e Joubert seria regravado incontáveis vezes, e não só por artistas e bandas ligados à folia: renderam-se ao encanto da música intérpretes como The Pops (1968), a jovem guardista Rosemary (1970), Celly Campello (1972) – nossa primeira e eterna rainha do rock –, Marisa Gata Mansa (1973) – que interpretou a marcha no estilo música de fossa que a consagrou –, Trio Esperança (1973), Os Originais do Samba (1978), The Fevers (1983), Tom Zé (1992) – em 2013, ele gravaria também, em ritmo de batidão e com versos adicionais de Marcelo Segreto, o jingle que fizera em 1977 para o Guaraná Taí, em cima da melodia de Joubert –, Roberta Miranda (1998), Fernanda Takai (2007) e Marjorie Estiano (2014).

    O próprio Joubert de Carvalho, que não era intérprete, atacou de cantor no programa “MPB Especial” da TV Cultura em 1974 e, acompanhando-se ao piano, mostrou “Pra você gostar de mim”. Carmen, desde 1930, apresentaria o grande sucesso do início da sua carreira diversas vezes ao vivo, em palcos e emissoras de rádio – até mesmo num programa da NBC em 09/08/1939, nos Estados Unidos, onde chegara com os rapazes do Bando da Lua em maio daquele ano.

    A vitoriosa marcha seguiria Carmen Miranda por toda a sua vida – e mais além. Foi através de “Taí” que ela conseguiu um contrato para fazer sua primeira excursão ao exterior – mais precisamente à Argentina –, em setembro de 1931, como relata Cássio Emmanuel Barsante em “Carmen Miranda” (Editora Europa, 1985). Quando esteve de visita ao Brasil em 1954, em cada boate que entrava, a orquestra atacava a marchinha famosa. De volta ao Estados Unidos, na noite de 04/08/1955, após gravar o programa de Jimmy Durante, recebeu alguns convidados em sua casa em Beverly Hills. Conta Ruy Castro que ela “Dançou, fez imitações, contou histórias – enfim, deu um show completo, de mais de uma hora (...)” – e, claro, cantou algumas músicas, entre elas “Taí”, antes de subir ao quarto, já de madrugada, e sofrer o infarto fatal.

    Uma semana depois, à saída do seu cortejo, na Câmara dos Vereadores do Rio, na Cinelândia, foi “Taí” a escolhida para ser tocada pelos membros da Velha Guarda, postados nas escadarias da Câmara, para homenagear sua saudosa amiga – mas Pixinguinha, Donga, João da Baiana e seus companheiros não tiveram forças. “Em 1930, quando eles a acompanhavam, regulavam o andamento da marchinha de Joubert de Carvalho pelo requebrado das cadeiras de Carmen. Agora só podiam contar com eles mesmos. Mas não conseguiram. (...) a emoção era muita”, conta Ruy Castro, revelando que eles acabaram salvos “pelo carrilhão da Mesbla, a cem metros dali, na Rua do Passeio – os sinos atacaram a marchinha e foram encorpados por um coro baixinho de mais de 50 mil vozes”.

    Um alegre coro de centenas de milhares de vozes irá entoá-la mais uma vez no próximo Carnaval – onde afinal tudo começou, graças a um encontro fortuito entre duas pessoas, como assinala Castro. “Fortuito mesmo, porque, pela soma de improbabilidades, dele não deveria ter saído nada de mais. Mas desse encontro, em janeiro, resultou a marchinha ‘Pra você gostar de mim’, mais conhecida por ‘Taí’. E, dali, a fulminante consagração de Carmen, num Carnaval tão rico que dividiria a música popular brasileira em antes e depois daqueles três ou quatro dias de 1930”.

    Na imagem principal: o rótulo do disco Victor 33263, com a gravação original de “Pra você gostar de mim”, por Carmen Miranda (Arquivo Nirez)

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