Elza Laranjeira é uma intérprete que nunca fatiga. A gente a escuta uma vez e parte para querer sempre mais. Porque ela canta sem maneirismos nem falsas bossas. Canta simplesmente. E porque ela sabe, também, ter classe na voz.
(Vinicius de Moraes, setembro de 1962 – Texto da contracapa do LP “A música de Jobim e Vinicius”, de Elza Laranjeira – RGE, 1963)
Procure o nome de Elza Laranjeira nas enciclopédias de música popular brasileira: são verbetes curtos. Nas biografias dos compositores que ela gravou, ou dos artistas que conviveram com ela, talvez haja, no máximo, uma menção ou duas – se houver. Muito pouco para a cantora que, apesar de sua discografia modesta, engrandeceu nossa MPB com a qualidade do seu canto. Foi ainda uma das pessoas mais queridas e adoradas tanto pelo público quanto por seus colegas, a julgar pelas páginas e páginas dedicadas a ela publicadas entre as décadas de 1940 e 1960 por periódicos diversos, especialmente as revistas especializadas em rádio, música e televisão – e é na leitura desse material que podemos conhecer melhor a cantora romântica que encantou plateias e conquistou tantos admiradores.
Graças a essas fontes – principalmente a Radiolândia e a Revista do Rádio –, ficamos sabendo que Elzinha – como gostava de ser chamada – era uma cozinheira de mão cheia, especialista em virado paulista e cuscuz, embora detestasse arrumar a cozinha. Também foi apreciadora de feijoada, bordadeira, costureira (criava vestidos para si), religiosa, fumante – mas nunca passava de dez cigarros por dia –, leitora de filosofia e de histórias em quadrinhos. Fazia, por prevenção, consultas regulares ao dentista e, quando nervosa, mordia a unha do dedo polegar.
Nesses periódicos, bem como nos textos das contracapas dos seus long-playings, vamos descobrindo os detalhes da vida de Elza Laranjeira, nascida em Bauru, interior de São Paulo, há cem anos, em 16 de junho de 1925. Com a idade de nove ou dez, a menina que praticava natação e jogava basquete apresentava-se na Rádio Clube de sua cidade natal, brilhando depois na Rádio Clube de Rio Claro. Acabaria se tornando professora do Grupo Escolar de Camilópolis, em Santo André – mas sem deixar a música de lado: tinha aulas de violão e canto lírico. Segundo o Correio Paulistano de 21/10/1943, aos 18 anos a professorinha já estava na Rádio Cruzeiro do Sul, na capital paulista, fazendo uma “temporada de audições especiais de música fina”.
Sua estreia aconteceu por acaso, como contaria a Mário Júlio, repórter da Revista do Rádio (24/12/1955): foi assistir a um programa na Cruzeiro do Sul quando ouviu dizer que a cantora Leny Eversong, com dor de garganta, não poderia se apresentar. Ofereceu-se para substitui-la, fez o teste com o maestro Totó (Antônio Sergi) e foi aprovada. Em 1945, iria para a Record, onde ficaria por 15 anos. No ano anterior, o Correio Paulistano de 07/07/1944 anunciava que Elza Laranjeira gravaria “uma linda ‘Ave Maria’, a última composição de Vicente de Lima”. A gravação acabou não saindo – de fato, a cantora demoraria ainda alguns anos até chegar ao disco.
O primeiro 78 rotações de Elza, lançado em 1951, foi anunciado por Abelardo “Chacrinha” Barbosa na Revista do Rádio de 19/12/1950, onde ele publicou “a relação das músicas para as folias de 1951, gravadas pela fábrica de discos Carnaval. Só esta fábrica gravou oitenta músicas para o período momesco”, escreveu. As de Elza eram a marcha “A encantadora de serpentes” e a batucada “Tira a coroa”. Embora nunca lembrada por sua ligação com este gênero, a cantora iria dar suas saracoteadas pelo universo carnavalesco: em 1954, lançaria os sambas “É covardia” e “Não vá embora, meu amor” e as marchas “Mulher namoradeira” (baseada na “Mulher rendeira” criada pelos cangaceiros do sertão nordestino) e “Pé de pobre”, campeã do Carnaval paulista em 1955. Neste mesmo ano, levaria ao disco a marcha “Gole de cachaça” e o samba “Lampião de querosene”.
Todas estas, feitas com ou sem parceiros, são de autoria de Alfredo Borba, compositor muito presente na primeira fase da carreira de Elza: entre 1953 e 1956, ela gravou 16 músicas dele, inclusive o popular samba “Gol de Baltazar”, de 1953 – o craque Baltazar, o Cabecinha de Ouro, nascido Oswaldo Silva, jogava no Corinthians (time de coração de Elza e Alfredo) e foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1954. Neste ano, a música, com letra ligeiramente modificada, seria relançada como “Gol do Brasil”.
Elza Laranjeira em compactos duplos: na RGE e na Mocambo / Reproduções da internet
“Dia das Mães”, canção de Maria Cecília B. França, iria se tornar um dos seus carros-chefe. Lançada pela jovem cantora em seu terceiro disco (o segundo dos três que faria para o selo Star em 1951), fez tanto sucesso que ela própria a regravaria em 1954, já pela Copacabana, com o Coro Infantil do Clube dos Garotos G-9. Esta mesma versão seria relançada mais tarde em dois LPs da mesma gravadora: em 1957, no álbum “Dia das Mães”, e em 1960, no disco “Mamãe”, além de ganhar uma reedição em 78 rotações neste mesmo ano.
Elza, intitulada – segundo o “Almanaque do Rádio de 1951” publicado em São Paulo em janeiro daquele ano – a “Cantora de Todos os Ritmos”, fazia valer o epíteto: nos seus registros fonográficos figuram gêneros musicais como samba, marcha, batucada, baião, xote, canção, choro e até valsa, bolero e fox-blue – aliás, foi como melhor cantora de música internacional que ela recebeu o Troféu Roquette-Pinto de 1951.
Desse repertório eclético dos anos 1950 fazem parte o samba lento “Foi sem querer”, os choros “Doçura” – composição da própria Elza Laranjeira, em dupla com Sérgio Rubens – e “Isto é namorar”, o baião “Lavadeiras de Portugal” (versão de Joubert de Carvalho para “Les lavandières du Portugal”, de André Popp e Roger Lucchesi) e a famosíssima valsa “Que será, será (Whatever will be, will be)” (de Jay Livingston e Ray Evans, com letra em português de Nadir Côrte Real). Mas seria no samba-canção que a romântica Elza, a partir do final da década – e já em outra gravadora –, iria encontrar seu estilo mais pessoal.
“Elza Laranjeira, cantora de tantos predicados (...), acabou por fazer um repertório musical inexpressivo que jamais combinou com os atributos de que sempre foi detentora como intérprete digna de um maior prestígio junto ao nosso meio artístico”, avaliava o jornalista e compositor Denis Brean n’A Gazeta Esportiva de 27/09/1957. “Daí a atitude oportuna da simpática estrela de, doravante, ser uma nova Elza Laranjeira, mais zelosa de seu repertório e de sua carreira que bem merece ter uma projeção maior do que a que registrou até aqui”, complementava. No mesmo periódico (09/10/1957), outro repórter, sob o pseudônimo Quincas Borba, revelou que ela havia rescindido o contrato com a Odeon – onde estava após uma passagem pela Columbia – e que iria assinar com a RGE, inaugurando uma nova fase na sua carreira, iniciada em dezembro com um 78 rpm contendo a valsa “Dois olhos azuis” e o beguine “Insônia” (parceria de Heitor Carillo com o então goleiro de futebol de salão e futuro pianista e compositor Mario Albanese).
Mas a nova fase teria que esperar: a cantora passaria por diversos contratempos, na saúde e na vida amorosa. Com relação a esta última, Elza gostava de “flertar”, como disse à revista Carioca de 27/02/1954. O primeiro namorado, o bancário Hélio Souto – com quem chegara a noivar, segundo contou à Radiolândia de 18/12/1954 –, impôs a ela uma escolha quando Elza começou a cantar no rádio: o noivo ou a arte. Ela preferiu a segunda. Mais tarde, já famosa, seus relacionamentos com pessoas públicas seriam explorados pelos fofoqueiros da imprensa, que se escondiam atrás de pseudônimos: a mexeriqueira Candinha (da Revista do Rádio), Tia Carlota (do Jornal das Moças), Dr. Butantan e Comadre Eudóxia (ambos da Radiolândia).
Um destes relacionamentos teria sido, segundo a página Brazilian Pop, com o jogador Baltazar, personagem do samba gravado por ela em 1953. Outro, segundo a Revista do Rádio de 14/08/1954, foi com Alfredo Borba, seu compositor preferido naquele momento. Em 18 de dezembro do mesmo ano, a Radiolândia estampava em suas páginas fotos do casal Elza Laranjeira-Fábio Cardoso, galã da TV Record – ao autor da reportagem, Olinto Silva, Elza confessou até o desejo de se casar. Entre 1955 e 1956, as “bocas de Matilde” da imprensa já apontavam outro pretendente da cantora, o radialista e apresentador Randal Juliano, com quem ela posava para fotos publicadas na mídia. Logo depois, viria à tona o mais comentado e turbulento caso de Elza, com o cantor Agostinho dos Santos.
O romance teria começado por volta de 1956-1957 e era mantido em segredo – Agostinho, casado com Mafalda Palleta, já então era pai de família: a filha mais velha, Nancy, nascera em 1953. Mas não era segredo para a imprensa, que no início não mencionava seus nomes, mas dava pistas. Na coluna de Ricardo Galeno no Diário Carioca de 13/01/1957, por exemplo, a legenda da foto de Agostinho dizia: “Cheirando a flor de laranjeira”. A Ultima Hora carioca publicou, em 23/05/1957, uma fotografia onde ambos apareciam juntos no aniversário dele. Tia Carlota, no Jornal das Moças de 03/08/1957, não era tão complacente, escancarando o relacionamento entre ambos, citados pelos nomes.
“Elza Laranjeira está sumida do meio artístico (...). Será que esse sumiço da Elzinha tem alguma ligação com o ‘love’ que a vem preocupando tanto nos últimos meses?”, indagava Denis Brean n’A Gazeta Esportiva de 24/05/1957. Foi um relacionamento de altos e baixos que ao terminar, por volta de 1959-1960, já não era mais secreto nem para o público. Para complicar ainda mais a vida de Elza, vieram problemas de saúde e psicológicos – não seria surpresa se estes últimos estivessem relacionados ao caso com Agostinho.
“1958 apresenta-se como o pior ano da minha vida. Em janeiro iniciei a gravação de um LP para a RGE. Essa gravação foi consecutivamente adiada, devido a gripes e outras coisas mais. No final tive de submeter-me a uma operação nas amídalas. E fiquei 20 dias sem cantar. (...) E veio um terrível esgotamento nervoso. Qualquer emoção forte fazia-me perder a voz”, contava Elza a Waldemir Paiva, em entrevista publicada na Revista do Rádio em 08/11/1958. Ao contrário de uma cirurgia de apendicite feita em 1953, a das amídalas, apesar de bem sucedida, teve consequências: uma “inibição nervosa” (segundo a Radiolândia de 26/04/1958) ou um “choque traumático” (de acordo com a mesma revista em 17/05/1958) que a impedia de cantar: a voz simplesmente não saía. Precisou recorrer a um psiquiatra. O tratamento duraria meses.
Teve ainda um desfalecimento que a levou ao hospital, devido à “ruptura de uma veia, à altura do estômago. Sua pressão arterial chegou a zero”, escreveu Waldemir Paiva na reportagem. Enfrentou mais uma operação, desta vez bastante delicada. Com tudo isso, em termos musicais Elza passaria o ano de 1958 em branco. Voltaria às bolachinhas apenas em 1959, com duas músicas lançadas em fevereiro: o dançante fox “É disco que eu gosto” (atenção para o trocadilho do título), que passeia por alguns dos ritmos da moda de então, e “Dona Saudade”, um samba-canção – gênero que ela abraçaria e que marcaria a segunda fase da sua carreira, onde ela teria, assim como na época de Alfredo Borba, um compositor se destacando em sua discografia: Tom Jobim, de quem ela levou ao disco 14 músicas entre 1959 e 1963 (11 delas da parceria com Vinicius de Moraes).
“A simpática e suave Elza Laranjeira, ‘dona’ do sucesso ‘Eu sei que vou te amar’, que a RGE está vendendo às pampas”, era o que dizia o texto-legenda de sua foto publicada na coluna do compositor Jair Amorim na Radiolândia de 26/09/1959. O texto informava que “Elza, entusiasmada com a receptividade encontrada pelo seu standard, prepara com carinho um 12 polegadas, com o qual espera repetir o êxito de vendagem conseguido durante semanas e semanas. É claro que o repetirá, que Elza canta bem, docemente bem”.
O êxito já alcançado em São Paulo – em disco, rádio, televisão e casas noturnas – ela agora experimentava também no Rio de Janeiro, como apontava o mesmo periódico em 10 de outubro: “Parece que chegou a vez de Elza Laranjeira brilhar nos microfones cariocas, agora que assumiu compromisso com rádio, TV e boate na capital federal (...)”. Por essa época, baixou novamente ao hospital “por motivo de mal súbito”, dizia a Radiolândia de 31 de outubro – e a maledicente Candinha, na Revista do Rádio do mesmo dia, afirmava que o motivo seria Agostinho...
Tom, Vinicius e Elza Laranjeira: num compacto duplo de 1962 e num LP de 1963 / Reproduções da internet
O 78 rotações com “Eu sei que vou te amar” e “Aula de matemática”, lançado em junho de 1959, iria inaugurar um novo momento na vida de Elza Laranjeira. São dois sambas de Tom Jobim, feitos respectivamente com Vinicius de Moraes e Marino Pinto. O de Tom e Vinicius entraria no long-playing (primeiro dos quatro que ela gravaria para a RGE) de 1960 que ganharia o título de uma música de Dolores Duran igualmente levada ao 78 rpm por Elza em 1959, mais um sucesso de sua carreira: “A noite do meu bem”. Outras músicas lançadas no acetato também estariam presentes no seu LP de estreia: a marcha-rancho “Um punhadinho de estrelas”, os sambas-canção “Estou amando azul”, “Um minuto” e “Fale baixinho” – faixa “preferida por Elza”, segundo o texto de Boni para a contracapa do disco – e o samba teleco-teco “Tome continha de você”.
O mesmo expediente se deu nos LPs subsequentes. Em “Ternura”, de 1961, estão o bolero “Ninguém é de ninguém”, o fox “Devaneio”, o samba-canção “Eu nem me lembro mais de ti” e “Água de beber”, clássico de Tom e Vinicius, todos também lançados em 78 rotações. Do álbum de 1962 “Elza Laranjeira canta sucessos” fazem parte o bolero “Sem motivo” e o samba-canção “Mais uma vez adeus”.
O último LP de Elza, “A música de Jobim e Vinicius”, de 1963, seria o quarto álbum contendo exclusivamente composições dos dois autores, depois de “Orfeu da Conceição” (1956), “Canção do amor demais” (de Elizeth Cardoso, 1958) e “Por toda minha vida” (de Lenita Bruno, 1958) – sem contar o LP “Sinfonia da Alvorada” (1961), homenagem de Tom e Vinicius à recém-inaugurada capital federal, Brasília. Duas músicas do último 78 rotações de Elza Laranjeira, de outubro de 1962, fariam parte do disco de 12 polegadas de 1963: “Só danço samba” e “Samba do avião”.
Os quatro álbuns de carreira não seriam os únicos da sua discografia em vinil. Além de lançar alguns compactos (simples e duplos), Elza faria participações em outros long-playings: gravou “Doce mãezinha” (versão de Lourival Faissal para “My yiddishe momme”) no LP “Mamãe... presente!” (1960); “É Natal”, no LP “Natal... presente” (1960); “Amor”, em dupla com Marco Antônio, no LP “14 sucessos de ouro vol. 2” (1962); “Quando foi”, no LP “Um milhão por uma canção” (1963); e, dividindo os vocais com Lindomar Castilho, “Longe do mundo”, do LP “As 12 pra frente” (1968), também presente no lado A de um compacto simples da Continental que apresentava, no lado B, “Mentira”, apenas na voz de Elza – estes são possivelmente os seus derradeiros registros. Na época dos 78 rotações, contabilizara, entre 1951 e 1962, a soma de 27 discos (mais três divididos com outros cantores), num total de 56 gravações.
Long-playings de Elzinha na RGE: 'A noite do meu bem' (1960), 'Ternura' (1961) e 'Elza Laranjeira canta sucessos' (1962) / Reproduções da internet
Em sua época áurea, Elzinha – fã de cinema – chegaria a dar pinta na tela grande. Teria estreado, de acordo com algumas fontes, no filme “Areião” (1952), de Camillo Mastrocinque. É ela quem canta, ao lado do conjunto Os Modernistas, “É proibido beijar” (de Enrico Simonetti e Alfredo Borba), na abertura do filme homônimo de Ugo Lombardi (1954). Em 1955 – ano em que foi eleita Rainha dos Estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo –, ela apareceu em “Carnaval em Lá maior”, de Adhemar Gonzaga, cantando a marcha “Pé de pobre” (veja a partir dos 19’06’’). Também participaria de “Dorinha no soçaite”, de Geraldo Vietri (1957).
Várias músicas gravadas por Elza em sua segunda fase fonográfica, a da RGE – entre elas “Podem falar”, “Estou amando azul”, “Ninguém é de ninguém”, “Devaneio”, “Eu nem me lembro mais de ti”, “Sem motivo”, “Mais uma vez adeus” –, revelam a grande cantora romântica que ela foi, e talvez não só isso: as letras das canções parecem descrever – mas pode ser apenas uma grande coincidência – os momentos felizes e as muitas desilusões de sua própria vida amorosa.
“Um filho. Um só filho faria de mim a criatura mais feliz sob a luz do Sol”, desabafou à Radiolândia (26/03/1960). Por um lado, Elza acumulava elogios e premiações pelo ótimo momento profissional em 1959 – prêmios Cidade de São Sebastião, Bacharéis do Disco, Chico Viola e melhor disco de 78 rpm (dado pelo Clube dos Cronistas de Discos) por “Eu sei que vou te amar” – e fazia sua primeiras viagens ao exterior, após anos se apresentando pelo país. Por outro, desencantava-se com um aspecto importante de sua vida. “(...) na parte sentimental eu me considero, no íntimo, uma pessoa complicada. (...) Para mim, casar não é um plano. É, sim, um grande sonho”, desabafava à Revista do Rádio de 18/02/1961.
Naquele momento, já se aventava um novo romance entre ela e um médico carioca (em 1963 a Candinha descobriria seu nome, Élcio). No início de 1962, teve uma grande alegria ao se apresentar em Bauru, sua terra natal, após 19 anos de ausência: “Ao final não pôde esconder lágrimas de emoção e gratidão”, escreveu o Comendador no Correio Paulistano de 20 de fevereiro. Em 1963, houve mais uma operação, desta vez no nariz, por causa do seu desvio de septo. Acabou aproveitando a ocasião para fazer uma plástica no local, a fim de corrigir defeitos estéticos. No mesmo ano, seria eleita pela Revista do Rádio a Melhor Cantora do Rádio de São Paulo.
Aos 37 anos, revelou à revista InTerValo (de abril de 1963) que iria ao interior conhecer seu irmãozinho, fruto do segundo casamento do pai. “Foi ótimo ter vindo um menino, pois, caso contrário, o nome de família acabaria. Tenho apenas três irmãs casadas, que já perderam o sobrenome, e eu, se me casar, perderei também”. A Candinha, no ano seguinte, ainda dizia que era esperado para aquele 1964 o enlace de Elza com o médico, sobre quem a cantora falaria mais abertamente à Revista do Rádio de 11/09/1965.
Elza Laranjeira ficaria um bom tempo afastada da vida artística, retomando-a apenas em 1975, aos 50 anos, apresentando-se em boates e casas noturnas de São Paulo. “A veterana cantora, que já disputou com Isaurinha Garcia a preferência do público paulistano, devolve o antigo prestígio à Boate Enredo”, destacava a nota do Jornal da República de 01/09/1979. Nos anos 1980, faria ainda aparições esporádicas em programas de televisão.
Num jogo de perguntas e respostas da Revista do Rádio de 05/12/1964, ao ser questionada sobre “onde desejaria morrer”, a romântica Elzinha respondeu: “Nos braços de quem amo”. Confrontada com a pergunta “quer viver até que idade”, não titubeou: “Até o dia que não tiver mais amor em meu coração”. Tinha a idade de 61 anos quando o coração falhou, o amor que ele continha enfim foi-se embora e a levou junto, no dia 22/07/1986, na capital paulista. “(...) morreu sozinha em casa em julho” após enfrentar “problemas cardiovasculares”, segundo a retrospectiva feita por Efe Pinto na Luta Democrática de 31 de dezembro.
Graciosa, elegante, sofisticada... Colecionadora de elogios, Elza Laranjeira deixou como lembrança, além de uma personalidade que encantou todos os que a conheceram, a sua arte musical, enaltecida inúmeras vezes por público e críticos. Como Claribalte Passos, que, ao escrever sobre o LP “Ternura” no Correio da Manhã de 02/07/1961, não deixou dúvidas: “Sua voz é uma carícia que envolve e fascina ao ouvinte. (...) Seria melhor dizer de acordo com a linguagem popular: a moça canta com o coração”.
Na foto principal: Elza Laranjeira em Santos. Foto de Battistoni (Coleção José Ramos Tinhorão / IMS)